Rumi (Masnavi:VI,210-225) – a carga da existência

tradução

210. De Ti veio primeiro este fluxo e refluxo dentro de mim; senão, ó glorioso, este mar [meu] estava quieto.
Da mesma fonte de onde ME deste esta perplexidade, graciosamente [agora] ME faça despreocupado da mesma forma.
Tu estás ME afligindo. Ah, ajuda [me], ó Tu por cuja aflição os homens são [enfraquecidos] como mulheres.
Por quanto tempo [irá] esta aflição [continuará]? Não [me aflija], ó Senhor! Conceda-ME um caminho, não ME faça seguir dez caminhos!
Eu sou [como] um camelo emaciado, e minhas costas estão feridas por meu livre arbítrio que se assemelha a uma sela de carga.

215. Em um momento este alforje pesa muito para este lado, em outro momento aquele alforje cede para aquele lado.
Deixe a carga desequilibrada cair de mim, para que eu possa contemplar o prado dos piedosos.
[Então], como os Companheiros da Caverna, devo folhear o pomar de Bounty — não acordados, não, eles estão dormindo.
Reclinarei à direita ou à esquerda, não rolarei a não ser involuntariamente, como uma bola,
Assim como Tu, ó Senhor do Juízo, ME viras para a direita ou para a esquerda.

220. Centenas de milhares de anos eu estava voando [para lá e para cá] involuntariamente, como os ciscos no ar.
Se esqueci esse tempo e estado, [ainda] a migração no sono [para o mundo espiritual] ME traz à memória.
[Todas as noites] eu escapo desta cruz de quatro galhos e saio deste [confinado] lugar de parada para o [espaçoso] pasto do espírito.
Da ama, Dorme, sugo o leite dos meus dias passados, ó Senhor.
Todas as [pessoas no] mundo estão fugindo de seu livre-arbítrio e [auto-]existência para seu lado bêbado [inconsciente].

225. Para que por algum tempo eles possam ser libertos da sobriedade [consciência], eles colocam sobre si mesmos o opróbrio do vinho e dos menestréis.
Todos sabem que esta existência é uma armadilha, que o pensamento volitivo e a memória são um inferno.
Eles estão fugindo do egoísmo para o altruísmo, seja por meio de intoxicação ou por meio de ocupação [por vezes absorvente], ó homem bem-conduzido.
Tu [ó Deus] tiras a alma daquele estado de não ser porque ela entrou na inconsciência sem Tua ordem.
Nem para os gênios [gênios] nem para a humanidade é [possível] atravessar a prisão das regiões do mundo temporal.

Nicholson

210. From Thee first came this ebb and flow within ME; else, O glorious One, this sea [of mine] was still.
From the same source whence Thou gavest ME this perplexity, graciously [now] make ME unperplexed likewise.
Thou art afflicting ME. Ah, help [me], O Thou by whose affliction men are [made weak] as women.
How long [will] this affliction [continue]? Do not [afflict me], O Lord! Bestow on ME one path, do not make ME follow ten paths!
I am [like] an emaciated camel, and my back is wounded by my free-will which resembles a pack-saddle.

215. At one moment this pannier weighs heavily on this side, at another moment that pannier sags to that side.
Let the ill-balanced load drop from ME, that I may behold the meadow of the pious.
[Then], like the Fellows of the Cave, I shall browse on the orchard of Bounty—not awake, nay, they are asleep2.
I shall recline on the right or on the left, I shall not roll save involuntarily, like a ball,
Just as Thou, O Lord of the Judgement, turnest ME over either to the right or to the left.

220. Hundreds of thousands of years I was flying [to and fro] involuntarily, like the motes in the air.
If I have forgotten that time and state, [yet] the migration in sleep [to the spiritual world] recalls it to my memory.
[Every night] I escape from this four-branched cross and spring away from this [confined] halting-place into the [spacious] pasture of the spirit.
From the nurse, Sleep, I suck the milk of those bygone days of mine, O Lord.
All the [people in the] world are fleeing from their free-will and [self-]existence to their drunken [unconscious] side.

225. In order that for awhile they may be delivered from sobriety [consciousness], they lay upon themselves the opprobrium of wine and minstrelsy.
All know that this existence is a snare, that volitional thought and memory are a hell.
They are fleeing from selfhood into selflessness either by means of intoxication or by means of [some engrossing] occupation, O well-conducted man.
Thou [O God] drawest the soul back from that state of not being because it entered into unconsciousness without Thy command.
Neither for the Jinn [genies] nor for mankind is it [possible] to pierce through the prison of the regions of the temporal world.

Masnavi