Tradução da versão inglesa “The Diwan of Shams-i-Tabriz” de Nicholson por Ricardo Aníbal Rosenbusch
Davi perguntou a Deus: “Nós sabemos que tu não precisas deste mundo nem do que está além, qual é então o bom senso em tê-los criado?”
Deus replicou: “A humanidade está enredada no tempo, como vou responder-te para que compreendas?
“Eu era um tesouro escondido, abundante, irradiando amor. Para revelar este tesouro criei um espelho: a sua frente o coração do ser, o seu reverso os mundos dos fenômenos. O reverso parece melhor que a frente — se ele é o único lado que conheces.”
Quando a poeira anuvia o cristal, como pode o espelho estar claro?
Quando tu removes o pó, os raios voltam sem desviar-se.
O suco de uvas não fermenta de um dia para o outro: o vinho envelhece certo tempo na garrafa.
Se queres que teu coração brilhe, conta com um bocado de esforço da tua parte.
Escuta esta história: Quando a alma deixou o corpo, foi detida por Deus às portas do céu: “Voltaste do mesmo jeito que saíste. A vida é uma benção de oportunidade: onde estão os hematomas e arranhões causados pela viagem?”
Todos conhecem a lenda sobre o alquimista que faz o cobre virar ouro.
Uma alquimia mais extraordinária transmutou o cobre, o meu prezado Shams e eu: Shams, o sol, não necessita de chapéu ou túnica para bloquear os intensos, firmes raios da Graça.
Seu ser sozinho cobre cem cabeças calvas e veste dez corpos nus.
Minha criança-eu!
Apenas por humildade, Jesus cavalgou um asno.
Por que outra razão o vento montaria num jumento?
Meu eu intuitivo!
Nesta busca, comanda a tua cabeça para imitar o comportamento da água corrente.
Meu eu lógico!
Se queres uma vida que vale a pena ser vivida, segue pela trilha segurando a mão da morte.
Lembra-te da Unidade até te esqueceres da separação. Então talvez percas teu rumo no Nomeado, sem o desvio do nomeador e do nome.