O jnana parte da ideia de que o homem está livre do seu destino; para os que desejam salvar-se, existem os mistérios e as iniciações; a multidão dos profanos segue o seu caminho. Ao contrário, a bhakti tornada religião tem isto de particular: quer forçar os homens a se salvarem, o que tem a vantagem de transformar determinadas naturezas e a desvantagem de criar a mesquinhez de alma e o fanatismo, no sentido próprio e não-abusivo desses termos.
E preciso explicar aqui dois paradoxos: o das iniciações artesanais e o do imperador. As iniciações artesanais referem-se ao jnana, mas restrito a uma cosmologia e a uma alquimia, como já observamos antes: trata-se de conduzir o homem de volta à norma primordial, não por um heroísmo sentimental, mas simplesmente baseando-se na natureza das coisas e com o auxílio de um simbolismo artesanal. É plausível que, no caso da maçonaria, essa perspectiva possa ceder terreno a um universalismo humanista que, do ponto de vista intelectivo, é apenas caricatura, sendo a causa longínqua a Renascença e a causa próxima o “século das luzes”. O que o caso do imperador tem de paradoxal é que a função desse monarca, por um lado, está relacionada com o mundo e não com a religião e, por outro, dá continuidade ao papel do pontifex maximus da religião romana, que foi do tipo jnana por sua origem ariana e apesar da degenerescência da sua forma geral e majoritária. É esta qualidade de pontífice, “gnóstico”, por assim dizer, ou esta investidura celeste direta — de que Dante e outros gibelinos parecem ter tido plena consciência —, que explica com que direito e sem oposição Constantino podia convocar o concílio de Niceia. Essa mesma qualidade, realmente bastante imprecisa, explica a tolerância e o realismo dos imperadores em relação às minorias não-cristãs que, às vezes, eles tinham de defender contra os padres, cujo exemplo mais evidente foi o acordo entre cristãos e muçulmanos na Sicflia, sob o imperador Frederico II.