Esotéricamente, a árvore-símbolo é o centro universal que oferece os frutos de diversas possibilidades; por intermédio do seu tronco, que é vertical, ela sugere a ascensão e, por essa mesma razão, também a descida; em virtude dos seus ramos, exerce função de escada. Além disso, a árvore abriga contra o calor do sol: oferece sombra e, desse ponto de vista, sugere o lar, a segurança, o repouso, o frescor; a sombra constitui um dos benefícios de que usufruem os bem-aventurados no Paraíso muçulmano. Mas os aspectos mais importantes do simbolismo da árvore são certamente a posição axial e os frutos.
O Gênese informa-nos que, no centro do Paraíso terrestre, existia a árvore da Vida e que a do conhecimento do Bem e do Mal era outra árvore; os frutos dessa segunda árvore eram proibidos ao homem. A árvore central é a do conhecimento sintético ou unitivo: é ver os acidentes ou as contingências, na Substância ou em função dela. A árvore proibida é a do conhecimento separativo: corresponde a ver os acidentes fora da Substância, desta se esquecendo, como se os acidentes fossem substâncias autônomas, o que praticamente chega à negação da Substância una; foi esse o pecado do primeiro casal humano. Aliás, para uma perspectiva voluntarista e penitencial, que vê o mal sobretudo na paixão da carne, é grande a tentação de ver a queda no ato sexual; na verdade, é impossível a causa da queda estar numa lei positiva da natureza; ela está unicamente no fato de afastar os bens naturais de sua Fonte divina, de vivê-los fora de Deus e de atribuir a si a sua glória e o seu usufruto. O pecado de Adão e Eva foi, no fundo, menos uma ação exterior determinada do que o fato de se colocarem fora do Centro divino: de isolarem — no ato do conhecimento ou da vontade — tanto o sujeito como o objeto, portanto, de praticamente eliminá-los, embora ilusoriamente, de Deus, que, afinal de contas, é o único Sujeito e o único Objeto. Feito isso, o primeiro casal humano comete necessariamente um ato do princípio de desobediência.
As interpretações teológicas da árvore proibida nem sempre são concludentes: assim, reconhecer que o primeiro homem tinha necessariamente discernimento moral, em seguida pretender que o pecado original foi a usurpação da faculdade — reservada a Deus — de decidir o que é o bem e o mal é, no mínimo, contraditório. Pois, se Adão tinha discernimento moral, tinha por essa mesma razão a faculdade de aplicá-lo e a frase “decidir por si mesmo o que é o bem e o mal” não tem sentido algum, a menos que signifique o desejo de ir contra o discernimento; mas, neste caso, há a violação de uma faculdade humana e não a usurpação de um privilégio divino. Além disso, dizer que, decidindo o que é o bem e o mal, o homem se põe no lugar de Deus é insinuar que o bem e o mal resultam de uma decisão divina, isto é, de um veredicto cujas causas não podemos ignorar; aí está uma opinião que nos leva a certos exageros da teologia asharita. Evidentemente, a avaliação moral, seja extrínseca ou intrínseca, circunstancial ou essencial, nada tem de arbitrária: é mal aquilo que por sua natureza ou no plano da sua manifestação se opõe a Deus, ou aquilo que de fato é prejudicial ao homem, estando o interesse superior sempre à frente do interesse inferior. Embora seja evidente, lembremos a esse respeito que um bem objetivo pode ser subjetivamente um mal para determinado indivíduo ou para determinado gênero de homens, e inversamente; por razões de oportunidade, a moral codificada e simplificadora admitirá mais facilmente esse segundo ponto de vista do que o primeiro, no sentido de que sempre denominará um “mal” todo bem moral ou socialmente inoportuno.