Schuon (EPV) – Véu Luz

Existe apenas a Luz; os véus provêm necessariamente da própria Luz, são nela prefigurados. Não vêm da luminosidade, mas da resplandecência; não da claridade, mas da expansão. A Luz brilha por ela própria, em seguida resplandece para se comunicar e, resplandecendo, produz o Véu e os véus; resplandecendo e espalhando-se, gera o afastamento, os véus, as gradações. A tendência intrínseca à resplandecência constitui o primeiro Véu, aquele que em seguida se torna preciso no Ser criador e depois se manifesta como cosmo. O esoterismo ou a gnose, sendo a ciência da Luz, é por isso mesmo a dos velamentos e desvelamentos pela força das coisas, visto que, por um lado, o pensamento discursivo e a linguagem que o expressa constituem um véu e, por outro, a razão de ser desse véu é a Luz.

Deus e o mundo não se misturam; há apenas uma Luz vista através de inúmeros véus; o santo que fala em nome de Deus não fala em virtude da inerência divina, pois a Substância não pode ser inerente à acidência. É Deus que fala; o santo é apenas um véu cuja função é manifestar Deus, “como uma nuvem pouco espessa torna o sol visível”, segundo uma comparação habitualmente utilizada pelos muçulmanos. Todo acidente é um véu que torna visível, mais ou menos indiretamente, a Substância-Luz.

Evidentemente, no Avatara há a separação entre o humano e o divino — ou entre o acidente e a Substância — em seguida, a mistura, não entre o acidente humano e a Substância divina, mas entre o humano e o reflexo direto da Substância na acidência cósmica. Pode-se qualificar de “divino” esse reflexo em relação ao humano, com a condição de não restringir de forma alguma a causa ao efeito. Para uns, o Avatara é o Deus “que desceu”; para outros, é uma “abertura” que permite ver Deus “no alto”, de modo imutável.62

A resplandecência universal é o desenvolvimento da acidência a partir da Relatividade inicial; o Ser necessário, resplandecendo em razão de sua infinitude, cede lugar à Contingência. E o Coração, que se torna transparente, comunica a Luz una e, assim, reintegra a Contingência no Absoluto. Isto significa que somos realmente nós mesmos somente graças à nossa consciência da Substância e à nossa conformidade a essa consciência, mas não que devamos nos afastar de toda relatividade — supondo-se que isto seja possível — pois Deus, ao nos criar, quis que existíssemos.

Frithjof Schuon