Da parte exoterista afirma-se, contra o esoterismo universalista, que a Revelação diz determinada coisa e, em consequência, deve-se admiti-la de modo incondicional. Da parte esoterista dir-se-á que a Revelação é intrinsecamente absoluta e extrinsecamente relativa, e que essa relatividade resulta da combinação de dois fatores: a Intelecção e a experiência. Por exemplo, que uma forma não pode absolutamente ser única no seu gênero — assim como o sol que, representando intrinsecamente o centro único, não pode excluir a existência de outras estrelas fixas — é um axioma da Intelecção, mas tem a priori apenas um valor abstrato. Pelo contrário, torna-se concreto pela experiência que nos põe em estreita relação, nessa circunstância, com outros sistemas solares do cosmo religioso, e que nos induz justamente a distinguir, na Revelação, um sentido intrínseco absoluto e um sentido extrínseco relativo. De acordo com o primeiro sentido, Cristo é único, e ele assim o disse; de acordo com o segundo, ele o disse na qualidade de Logos, e o Logos, que é único, comporta justamente outras manifestações possíveis.
É verdade que só a experiência, e na ausência da Intelecção, pode dar margem a conclusões totalmente opostas: pensar-se-á, então, que a pluralidade das religiões constitui uma prova da sua falsidade ou, pelo menos, da sua subjetividade, já que diferem. Muito paradoxalmente, mas de modo fatal — tendo o civilizacionismo preparado o terreno —, a esfera oficial do pensamento católico deixou-se levar pelas conclusões da experiência profana, ignorando naturalmente as da Intelecção1. Isso faz com que esses ideólogos admitam certos postulados extrínsecos do esoterismo — precisamente o da validade das outras religiões — mas desacreditando da sua própria religião, sem compreender a dos outros em profundidade.
A persistência nos seus erros é facultada aos modernistas pelas posições extremas e amplamente arbitrárias de certos tradicionalistas, que comprometem a tradição tornando-a responsável por uma ideologia civilizacionista e nacionalista, e facilmente difamatória quando se trata da gnose ou do Oriente. Com isto seus adversários só podem felicitar-se, e o fato, em suma, não tem nenhuma relação com o Espírito Santo. ↩