Schuon (EPV) – Unidade e Díade

O simbolismo dos números e das figuras geométricas permite expor sem dificuldade os modos e os graus do velamento e do desvelamento; não que sua compreensão propriamente dita se tenha tornado fácil, mas os símbolos pelo menos fornecem chaves e elementos de esclarecimento.

Pode-se representar a Realidade absoluta, ou a Essência, ou o Super-ser pelo ponto; seria certamente menos inadequado simbolizá-lo pelo vazio, mas o vazio não é, propriamente falando, uma figuração. E se damos à Essência uma denominação, podemos com o mesmo direito e com o mesmo risco representá-la por um signo; e o signo mais simples, portanto o mais essencial, é o ponto.

Quem diz Realidade diz Poder ou Potencialidade, ou Shakti,se quisermos; portanto, há no Real um princípio de polarização perfeitamente indiferenciado no Absoluto, mais suscetível de ser discernido e causa de todo desdobramento subsequente. Podemos representar essa polaridade de princípio por um eixo horizontal ou vertical. Se ele é horizontal significa que a Potencialidade, ou a Maya suprema, continua no Princípio supremo, Paramatma, a título de dimensão intrínseca ou de poder latente. Se o eixo é vertical, significa que a Potencialidade torna-se Virtualidade, que ela resplandece e se comunica, que, consequentemente, dá margem a esta primeira Hipóstase que é o Ser, o princípio criador. É nesta primeira bipolaridade, ou nesta dualidade do princípio, que se encontram prefiguradas ou pré-realizadas todas as complementaridades e oposições possíveis: o sujeito e o objeto, a atividade e a passividade, o estático e o dinâmico, a unicidade e a totalidade, o exclusivo e o inclusivo, o rigor e a brandura. Esses pares são horizontais quando o segundo termo é o complemento qualitativo e, portanto, harmonioso do primeiro, isto é, se for a Shakti; são verticais quando o segundo termo tende de maneira eficiente a um nível mais relativo ou quando já aí se encontra. Não precisamos mencionar aqui as oposições puras e simples, cujo segundo termo tem apenas caráter privativo e que não podem ter nenhum arquétipo divino, exceto de maneira puramente lógica e simbólica.

No microcosmo humano, a dualidade manifesta-se pela dupla função do coração, simultaneamente Intelecto e Amor, este em relação ao Infinito e aquele ao Absoluto. De outro ponto de vista, que reflete a projeção hipostática descendente, o Intelecto corresponde ao Superser e o mental, ao Ser.

Frithjof Schuon