Alston (SSB1:II.1.1) – Ser-o-Si-da-Totalidade

1. Esse “ser-o-Si-da-totalidade” é o estado mais elevado de consciência do Si, Seu estado natural supremo. Mas quando, antes disso, a pessoa se sente diferente do Si de tudo, mesmo que por um fio de cabelo, esse estado é nesciência (avidya). Quaisquer que sejam os estados de consciência, da natureza do não-si, estabelecidos pela nesciência, não são o estado supremo, nenhum deles. Em comparação com esses estados, “ser-o-Si-da-totalidade”, ser totalidade, dentro e fora, é o estado mais elevado do Si. Portanto, quando a nesciência desaparece e o conhecimento atinge seu ápice, o “ser-o-Si-da-totalidade” sobrevém, e isso é liberação….

Os resultados desses dois, conhecimento e nesciência, são “ser-o-Si-da-totalidade” e “ser-de-natureza-limitada”, respectivamente. Por meio do conhecimento, a pessoa se torna o Si da totalidade. Por meio da nesciência, a pessoa se torna finita. A pessoa fica isolada dos outros. Estando isolado, se vê em oposição. Ao se opor, a pessoa é atingida, dominada, despojada. Isso acontece porque, estando no reino do finito, a pessoa se torna diferente (dos outros). Mas quando se é a totalidade, como pode ser diferente dos outros a ponto de alguém poder se opor? E se não houvesse oposição, como poderia ser atingido, dominado e despojado?

Essa, portanto, é a essência da ignorância. Faz com que a pessoa conceba o que é o Si da totalidade como não sendo o Si da totalidade. Coloca (a aparência de) outras coisas contra o Si, que não existem de fato. Faz com que o Si seja finito. Por isso, surge o desejo por aquilo de que se está separado. Por estarmos separados e sentirmos desejo, recorremos à ação. Da ação decorrem as consequências (phala), é isso que está sendo afirmado….

Assim, a essência da nesciência foi indicada, juntamente com seus resultados. E o resultado do conhecimento (vidya) também foi mostrado implicitamente como sendo “tornar-se o Si da totalidade”, pois é o oposto da nesciência. E essa nesciência não é uma propriedade (dharma) do Si. Portanto, quando o conhecimento aumenta, a nesciência diminui automaticamente. E quando o conhecimento atinge seu apogeu, a pessoa se estabelece no “ser-o-Si-da-totalidade” e a nesciência cessa completamente, assim como a noção errônea de uma cobra em uma corda cessa completamente quando a corda é conhecida de forma determinada. E assim foi dito: “Quando tudo se tornou o próprio Si, então através do que se poderia ver o quê?” Portanto, a nesciência não é uma propriedade natural do Si. Pois o que é uma propriedade natural de qualquer coisa nunca pode ser erradicado, como o calor e a luz no caso do sol. Portanto, pode haver liberação da nesciência.

A. J. Alston, Sankara (séc. VIII)