Os Sâkta são adoradores da Sakti, a Energia primordial ou Poder Divino que manifesta, mantém e reabsorve os mundos. Esse Poder de manifestação é adorado como a Mãe Suprema, que dá origem a milhões de universos, que produz dentro do Imutável a mudança que aparece como atividade mental, como força vital e como substância material. O mundo (jagat) é literalmente “movimento em movimento”. Samsara, existência, devir, é literalmente aquilo que gira, aquilo que está sujeito a ciclos, a revoluções contínuas. O Poder do Um, que é a fonte da mudança e de tudo o que muda, de tudo o que se desenvolve no espaço e no tempo, é chamado de Mãe Original e reverenciado como a natureza feminina presente no Princípio Supremo. Essa é uma expressão simbólica, uma formulação metafísica, pois muitas vezes se diz que Ela não é mulher nem donzela, mas o Poder inconcebível e imensurável, o ser de tudo o que existe, livre de toda dualidade, que Ela é o próprio Brahman supremo, conhecível apenas pela mais alta intuição iluminadora. É a Energia inerente à Consciência inabalável, absoluta, perfeita, eterna e imutável, no Princípio de todas as coisas, que é chamado Siva. Siva é o aspecto transcendente do Brahman supremo, absolutamente estático, “quiescente”, desprovido de mudança, diferenciação ou alteridade. Ele é Consciência pura1, imutável e não dual, e ainda assim investida de um Poder (Sakti) para gerar multiplicidade e mudança. Esse Poder inerente à Consciência, essa Energia da Consciência (Cit-sakti) manifesta um universo, atualizando todas as suas potencialidades por meio de uma série de transformações, emanações sucessivas, cujos estágios mais importantes são classificados sob o nome de trinta e seis tattvas. Esses trinta e seis estágios, do Não Manifestado ao Manifestado, retratam como o Ser Supremo, Siva, por meio de seu próprio Poder, Sakti, encobre sua própria infinidade e permite que uma multiplicidade de eus limitados, cercados pela determinação psíquica e formal, se envolvam na experiência cósmica, no devir e na experiência, ciclo após ciclo, vida após vida, os resultados de sua própria vontade e ação. (Corps subtil et corps causal. Paris: Le Courrier du Livre, 1979, p. 14-15)
Por pura não queremos dizer o oposto de impura, mas “nada além de”. Consciência Pura significa “nada além de consciência”, consciência não misturada com o menor traço de inconsciência ↩