HISTÓRIA — Arnold Toynbee (1889-1975)
Notável historiador inglês cuja a imensa obra “A Study in History” ficou consagrada por sua extensa investigação dos ciclos históricos das civilizações.
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Síntese por Mario Ferreira dos Santos
Para Toynbee a nossa civilização (que de certo modo corresponde ao termo cultura, como produzir-se, no sentido spengleriano) é filiada à cultura helênica, sobre a qual se fundou. O Império Romano se tornara um Estado Universal, o que também Alexandre desejara realizar com o helenismo, tendo malogrado.
O cristianismo também se forma com o mesmo desejo de realizar um Estado Universal, que é, para Toynbee, uma das características da formação das culturas. Esta passagem não se faz abruptamente, mas intercalada por um interregno, em que a sociedade antiga se corrompe acidental e “substancialmente”, e se gera “substancialmente” a nova sociedade, a nova tensão cultural, como a chamamos. Esse interregno é preenchido pela atividade da Igreja cristã, estabelecida no seio da sociedade romana e sobrevivendo a ela, e uma grande quantidade de pequenos estados efêmeros, surgidos do que se chamou Völkerwanderung dos bárbaros (que, em alemão, significa a migração dos povos), que surgiram no antigo território imperial, vindos da no man’s land, da terra de ninguém, do mundo bárbaro.
Para Toynbee três fatores marcam a transição da antiga à nova civilização: 1) um Estado universal, fase final da velha sociedade; 2) uma Igreja engendrada nessa velha sociedade e, por sua vez, engendrando uma nova; 3) a introdução caótica de uma idade heróica bárbara. Desses três fatores, o segundo é o mais importante e o terceiro o menos significativo.
Examinando as invasões de bárbaros no império romano, não atribui Toynbee tanta importância às mesmas na formação da nova civilização, por ser insignificante e negativa a sua contribuição, já que vândalos e ostrogodos foram aniquilados nos contra-ataques do Império Romano. Os visigodos receberam o primeiro choque dos francos e o tiro de misericórdia dos árabes, etc.
Fazendo, assim, um estudo comparado das civilizações, partilha ele as seguintes, que revelam a presença dos três fatores:
A sociedade cristã ortodoxa, a sociedade iraniana e árabe e a sociedade síria, a sociedade pré-indiana, a sociedade pré-chinesa, a sociedade minóica, a sociedade suméria, as sociedades hititas e babilônias, a sociedade egípcia, as sociedades andinas, do Iucatã, mexicana e maia.
Toynbee, partindo da classificação dos etnólogos modernos, que dividem a raça branca em três: a nórdica, a alpina e a mediterrânea, mostra as civilizações que partem de cada uma. Os nórdicos contribuíram para quatro, e talvez cinco civilizações: a pré-hindu, a helênica, a ocidental, a cristã ortodoxa russa e talvez a hitita. Os alpinos contribuíram para sete ou talvez nove: a suméria, a hitita, a helênica, a ocidental, como também para a cristã ortodoxa, com seu ramo russo, e iraniano, e talvez a egípcia e a minóica. Os mediterrâneos contribuíram em dez: a egípcia, a suméria, a minóica, a síria, a helênica, a ocidental, o corpo principal da cristã ortodoxa, a iraniana, a árabe e a babilônica.
Outra divisão da raça humana é a morena, que compreende os drávidas, o povo da Índia, os malaios da Indonésia, e que contribuiu para a formação de duas civilizações: a pré-hindu e a hindu. A raça amarela contribuiu para três: a pré-chinesa e as duas civilizações do Extremo Oriente; a saber, o corpo principal da China e o ramo japonês. A raça chamada “vermelha” (que é negada por muitos etnólogos) contribuiu para a formação das civilizações pré-colombianas.
A extrema valorização que modernamente se tem feito do fator racial tem sido exagerada, sem que se negue a positividade que cabe à raça. Devido às explorações políticas, como aconteceu com o nazismo, o estudo das raças ficou tremendamente obstaculizado, pois muitos etnólogos temiam contribuir para a formação de preconceitos, que provocassem calamitosas conseqüências. Ora, seria uma visão abstratista querer explicar a história apenas pela raça.
Se a raça não pode por si só explicar os fatos históricos, nem a formação das culturas, também não o pode o meio geográfico, porque não se repetem, segundo as semelhanças do meio, a semelhança das civilizações. Tomados em si mesmos, nem o meio nem a raça nos fornecem o fator único dos fatos históricos, embora sejam fatores positivos e cooperantes dos mesmos.