Le Saux: advaita

a-dvaita, não-dualidade; a-dvaya, a-dvitlya, não-dois, sem segundo; Ekam eva advitiyam, “Deus é um, é só, sem segundo”: elemento fundamental do pensamento filosófico-religioso hindu, que prefere antes colocar o mistério no valor de realidade da “criação” do que no ser de Deus. Certos filósofos, como Ramanuja (cf. infra) elaboraram sistemas que procuraram conciliar a realidade da “criação” (notar que não se trata nunca na Índia senão de uma “emanação”, srsti, nunca de “criação” no sentido cristão do termo) com a não-dualidade, infinitude e unidade divinas. Outros como Shankara, para não tocarem no absoluto divino, preferiram recusar qualquer realidade verdadeira ao mundo (cf. maya). Não existe ser, esse. sat, senão Deus; portanto o esse que a razão descobre nas coisas e que sua intuição faz experimentar no jnanin dentro dentro de si, não pode ser outro senão o próprio Deus (ver neste glossário, passim). O jivatman e o paramatman, são “absolutamente” indistintos. Não que Shankara seja panteista (o advaita não tem nada de um monismo, no sentido que o Ocidente dá a esse termo), pois aquilo que não é o ser, sat, (isto é, aquilo que não é absoluto, infinito, etc, exatamente fora de qualquer qualificação, nirguna) não é. Tudo o que nas coisas tem caráter impermanente, mutável, qualificável, é da categoria de maya. O homem tem, pois, por uma discriminação (viveka) e um despojamento (cf. vairagya) absolutamente drásticos, que penetrar, além de todas as aparências, até atingir o ser, kevala, que essencialmente e eternamente, êle próprio “é”.

Cf. Jacques Maritain em G. Dandoy, L’ontologie du Védânta, PP. 170-171. — “Não se deve concluir, a nosso ver, que o Vedanta seja panteísta ou mesmo monista, sobretudo no sentido que essas palavras têm para nós. Chama-se a si mesmo advaita, não-dualista. Sua preocupação de assegurar a transcendência de Brahman assim como a sua imanência, de manter a interioridade de sua Glória, é manifesta. Posição irredutível, equilíbrio original, cujo valor não cabe aqui apreciar”. (O. Lacombe, Avant-Propos de B. Grousset, Les philosophies indiennes, 1931, p. XIV, n. 1) — cf. P. N. Srinivasachari, M. A., The philosophy of Vishistadvaita, p. 77: “Se, por panteísmo, se quiser significar que tudo é Deus e igualar Deus ao mundo, nenhuma escola vedantina é panteísta. O mundo tem o seu ser em Deus, mas não é Deus e não esgota o Seu infinito… Se o panteísmo é uma filosofia de pura imanência, na qual Deus se transforma simplesmente no universo, também nenhuma escola vedantina é panteísta, pois o Vedanta afirma a transcendência divina tanto quanto a sua imanência.” (Le Saux)

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