Shayegan (DSAPP) – tecido do ser é tecido de dor (Khayyam)

O mundo tem duas portas: por uma entramos e pela outra saímos. O homem está preso entre dois nada, e isso constitui a enfermidade inerente à natureza das coisas, a insanidade fundamental e original do mundo. Entre esses dois nada, o tecido do ser é tecido de dor, mas uma dor tão essencial que constitui, de certa forma, o pano de fundo da existência, uma vez que a existência apenas a reproduz: “Se os que ainda não vieram soubessem o que nós suportamos, eles nunca teriam vindo a existir”. Se o mundo é impotente para resolver o enigma do qual ele mesmo é o autor, o homem é ainda mais. Ele sabe que, tendo aparecido como a água, desaparecerá como o vento e, assim como uma gota se junta ao oceano da aniquilação, o átomo de poeira, a massa compacta da terra, assim também nosso ir e vir representa a insignificante aparição de uma “mosca que, tendo acabado de chegar, desaparece “.

Diante desse absurdo do mundo, Khayyam adota duas atitudes distintas, mas complementares, que, como logo veremos, conformam os dois lados constitutivos das coisas: uma atitude negativa que consiste em destruir todas as ilusões com desmistificações deslumbrantes; outra, positiva, que busca recuperar dos destroços que são a bagunça do mundo a âncora do instante da presença.

Daryush Shayegan, Omar Khayyam