A forma da letra nun nos permite uma observação importante do ponto de vista das relações existentes entre os alfabetos das diferentes línguas tradicionais. No alfabeto sânscrito, a letra correspondente, na, reduzida aos seus elementos geométricos fundamentais, compõe-se também de uma semicircunferência e de um ponto; só que aqui a convexidade está voltada para o alto, tratando-se, portanto, de metade superior da circunferência, e não mais de sua metade inferior, como no caso do nun árabe. Consequentemente é a mesma figura colocada no sentido inverso, ou, para falar com mais exatidão, são duas figuras rigorosamente complementares entre si. Reunindo-as, dois pontos centrais se fundem de modo natural, formando um CÍRCULO com o ponto no centro, que é a figura do ciclo completo, sendo ao mesmo tempo o símbolo do Sol na ordem astrológica e do ouro na ordem alquímica. Do mesmo modo que a semicircunferência inferior é a representação da arca, a semicircunferência superior representa o arco-íris, que lhe é análogo na acepção mais estrita da palavra, ou seja, com a aplicação do “sentido inverso”. São também as duas metades do “Ovo do Mundo”, uma “terrestre”, nas “águas inferiores”, e a outra “celeste”, nas “águas superiores”. E a figura circular, que estava completa no início do ciclo, antes da separação das duas metades, deve reconstituir-se no final desse mesmo ciclo. Poderíamos dizer ainda que a reunião das duas figuras representa o cumprimento do ciclo, pela junção do começo e do fim, ainda mais que, se as compararmos em especial com o simbolismo “solar”, a representação do na sânscrito corresponde ao Sol nascente e o nun árabe ao Sol poente. Por outro lado, a figura circular completa é ainda, comumente, o símbolo do número 10, sendo 1 o centro e 9 a circunferência; mas sendo ela aqui obtida pela união de dois nun, vale 2 x 50 = 100 = 10²,o que indica que é no “mundo intermediário” que se deve operar a junção. Esta é impossível, como efeito, no mundo inferior, que é o domínio da divisão e da “separatividade”, mas que, ao contrário, existe sem interrupção no mundo superior, onde se encontra realizada desde o princípio de modo permanente e imutável no “eterno presente”. (Guénon)