O Cristianismo chegou às comunidades célticas da Grã-Bretanha nas fases finais do domínio romano e alastrou-se para além da velha fronteira imperial até a Irlanda e a Escócia nos séculos V e VI. Os cristãos celtas deram uma contribuição especial para a cena europeia em dois aspectos: pela inspiração e reputação de seus santos, e por sua atividade missionária direta no continente. Diz a tradição que, durante o século VI, uma grande quantidade de pessoas das regiões célticas da Grã-Bretanha tornaram-se santos ascéticos, retirando-se frequentemente para ilhas, e que muitos desses santos partiram para distantes e ignotas paragens, influenciando as populações locais e fundando mosteiros pelo caminho. Essa tradição exagera o número de pessoas envolvidas e o ascetismo delas, e concentra indevidamente a atividade no século VI. Entretanto, há evidência de viagens de alguns santos do século VI e houve, indubitavelmente, um movimento de fundação monástica durante o período final daquela centúria e ao longo da seguinte na Grã-Bretanha ocidental e na Irlanda; essas fundações eram caracteristicamente feitas em lugares centrais, não isolados. As melhores provas existentes referem-se a movimentos de galeses, viajando do País de Gales para a Irlanda nos séculos V e VI, e para a Cornualha e a Bretanha nos séculos VI e VII.
Como os mesmos santos eram venerados no País de Gales, Cornualha e Bretanha, autores medievais e outros mais recentes supuseram erradamente que a única explicação possível para o tão difundido culto comum eram as origens também comuns. Não havia contudo uma Igreja céltica dotada de organização unitária e prática comum em todas as áreas celtas. A prática e as instituições eram extremamente diversas nas diferentes regiões; os clérigos celtas nunca se reuniram como um grupo nem reconheceram uma figura que lhes presidisse. Compartilhavam, porém, de uma característica comum: a veneração de santos locais secundários, como Cadogou Mochutu, sem culto pan-europeu, parece ter sido muito mais habitual e mantida por muito mais tempo nas regiões célticas do que em outras. A missão céltica para o continente O movimento monástico dos séculos VI e VII encorajou alguns indivíduos a procurarem obter sua plena realização espiritual fazendo uma peregrinação para longe de seu lar e país, cortando todo o contato com fontes conhecidas de apoio e alcançando a superação do próprio eu através da luta espiritual. Durante essas peregrinações, faziam-se pregações e novas fundações monásticas eram erguidas como fonte de contínuo apoio espiritual para a população, fosse ela pagã ou já cristã.
A missão céltica para o continente era dominada por irlandeses, embora incluísse também alguns britânicos. O mais famoso desses primeiros peregrinos foi São Columba, que saiu do norte da Irlanda por volta de 565 e fundou o mosteiro de Iona ao largo da costa oeste da Escócia. Embora Iona fosse de considerável importância em missões para os pictos e os ingleses pagãos, Columba conservou seu interesse pela política irlandesa e voltou frequentemente à Irlanda.
Um peregrino mais típico foi São Columbano. Educado em Bangor, partiu por volta de 590 para a Europa continental, tendo como objetivo encontrar-se com os governantes merovíngios dos francos; com o patrocínio deles, fundou mosteiros em Annegray, Luxeuil e Fontaines. Depois desentendeu-se com os governantes e, em dado momento, foi forçado a deixar o país. Mais tarde, viajou pela Francônia oriental e entrou na Itália, encorajando a fundação de mosteiros em São Galeno e, finalmente, em Bobbio, onde morreu em 615. Outros se lhe seguiram, alguns parando, como Fursa, por volta de 630, na East Anglia pagã antes de passar ao continente; outros, como Tomiano, bispo de Angoulême, exercendo o cargo no seio da Igreja franca; ainda outros, como Ciliano de Würzburg (martirizado em 689), viajando para regiões pagãs que o fizeram chegar ao leste europeu.
O exemplo dos irlandeses levou outros a estabelecerem mosteiros na Francônia: Richarius, um nobre da Picardia que fundou Saint-Riquier, e Wandregisl, que fundou Saint-Wandrille, por exemplo. O movimento monástico prosseguiu no século VII e começo do VIII, mas foi suplantado em meados do século VIII pela missão inglesa à Alemanha pagã. Entretanto, uma esfera de influência irlandesa tinha sido estabelecida na Suíça, Áustria e sul da Alemanha, e isso foi um manancial de tradições duradouras. No século XII, numerosos mosteiros nessa área proclamavam-se de origem irlandesa, mesmo quando isso não era verdade, e fica muito difícil distinguir características intrinsecamente irlandesas no âmbito do primitivo monasticismo medieval no continente.
Os centros estabelecidos pelos irlandeses, ou através de influência irlandesa, não foram importantes meramente por razões espirituais, pois contribuíram para o progresso do saber e da educação; lugares como Luxeuil, sua filial Corbie, e Bobbio, revestiram-se de significado especial na produção e cópia de manuscritos — obras clássicas, patrísticas e jurídicas. O principal movimento monástico pode ter terminado em fins do século VIII, mas o movimento de indivíduos irlandeses prosseguiu, e as cortes francas continuaram atraindo homens de saber irlandeses durante todo o século IX. O poeta e pensador Sedúlio e o teólogo e filósofo João Escoto Erígena destacaram-se entre os muitos estrangeiros que deram valiosas contribuições para o renascimento intelectual carolíngio, e a tradição que associou a Irlanda e o saber continuou sendo uma força poderosa no desenvolvimento europeu. (DIM)