À semelhança dos anais, as crônicas desempenharam um importante papel no desenvolvimento da literatura histórica na Idade Média. Descrevem também acontecimentos, geralmente com mais detalhes do que os anais, chegando às vezes o cronista a produzir história aceitável, ainda que sua obra esteja, quase sempre, limitada a uma estrita sequência cronológica. As primeiras crônicas eram as chamadas “crônicas universais” ou “crônicas do mundo”, que abrangiam a história desde a Criação até os próprios dias do cronista. A mais antiga delas é a crônica de Eusébio de Cesareia, escrita no século III, à qual se seguiu, já no século IV, a crônica do mundo de Sulpício Severo.
Embora crônicas mundiais continuassem sendo escritas até o século XI, quando Mariano Escoto (1028-83) escreveu sua História Universal, do século IX em diante tornaram-se mais populares as crônicas locais, descrevendo a história de um determinado reino ou abadia. Exemplos das primeiras incluem a Crônica Anglo-Saxônica em suas diferentes versões (reunidas inicialmente em forma de crônica durante o reinado de Alfredo, c. 891), a História dos Reis da Saxônia por Thietmar de Marseburgo no século X, a Gesta Regum de Guilherme de Malmesbury no século XII e o Polychronicon de Ranulfo Higden no século XIII, enquanto que famosas crônicas monásticas incluem a Battle Abbey Chronicle na Inglaterra e a Histoire de l’Abbaye de St. Evroul de Ordérico Vital, na França, ambas pertencentes ao século XII. No final da Idade Média, os cronistas ainda se orgulhavam, de maneira ostensiva e deliberada na Itália, de sua perícia em expor de forma apenas fatual, numa ordem cronológica apropriada, mesmo quando já estavam avançando no sentido de uma nova concepção de história.
(A primeira história universal conhecida em língua portuguesa é o chamado Livro do Conde D. Pedro, filho bastardo de D. Dinis, que deu continuidade à tradição literária da corte de seu pai. A fonte principal dessa introdução historiográfica é a Crônica Geral de Espanha, de Afonso, o Sábio. O momento culminante da crônica em nossa língua ocorreria cerca de um século depois, na Crônica de D. João I, obra do maior escritor medieval português: Fernão Lopes. Outros cronistas medievais portugueses dignos de menção foram Gomes Eanes de Zurara e Rui de Pina. NT) (DIM)