A definição mais usual de duração “persistência de uma realidade no tempo”. Esta definição pode interpretar-se de vários modos. Por um lado, pode não só insistir-se no carácter temporal da duração, mas inclusive supor-se que o tempo da duração consiste na sucessão — sucessão de momentos. Por outro lado, pode destacar-se o permanecer na existência. Estas interpretações deram lugar a muitos debates sobre o conceito de duração, especialmente entre os escolásticos e os filósofos modernos do século XVII. Quando se insistiu no fato do “permanecer”, ligou-se o conceito de duração ao de eternidade. Alguns autores concluíram que o significado de ambos os conceitos é idêntico, dado o carácter fundamental que a noção de permanência tem para a eternidade. Outros, em contrapartida, introduziram uma série de distinções. Para S. Tomás, por exemplo, o conceito de duração é como um gênero de que são espécies os conceitos de eternidade e de eviternidade.. Por isso, o conceito de duração não inclui necessariamente o de sucessão, mas só o de permanência do ser que dura. O tempo é uma duração que tem começo e fim. A eternidade é duração sem começo nem fim e é, portanto, interminável (SUMA TEOLÓGICA). Esta concepção foi a mais difundida na escolástica e considerou-se que é a única que permite evitar uma separação completa entre os conceitos de eternidade e de tempo. Muitos dos filósofos modernos aproveitaram as elaborações escolásticas, em particular a noção de permanência, mas fizeram-nas servir para outros fins. Assim, Descartes que considerou que a duração de cada coisa é o modo pelo qual consideramos essa coisa enquanto continua a existir (OS PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA). Isto equivale a supor que o tempo é uma maneira de pensar a duração, e de distinguir entre duração, ordem e número. Espinosa distingue entre eternidade e duração. A eternidade é o atributo mediante o qual concebemos a infinita existência de Deus. A duração é “o atributo mediante o qual concebemos a existência das coisas criadas enquanto perseveram na existência atual” (PENSAMENTOS METAS). Mais precisa e laconicamente, a duração “é a continuidade indefinida de existência” (ÉTICA). Indefinida, porque “nunca pode ser determinada pela natureza da coisa existente, nem pela causa eficiente, que estabelece necessariamente a existência da coisa, mas não a suprime”. A duração distingue-se do tempo e da eternidade, do primeiro, por ser um “modo de pensar” da duração; da segunda, porque a duração é precisamente algo fundado na eternidade. Também os autores empiristas fazem uso de conceitos tradicionais, mas substituem a tendência metafísica por uma orientação psicológica e epistemológica. Locke define a ideia de duração como “as partes fugazes e continuamente perecedoras da sucessão” (ENSAIO), mas, mais à frente, nota que a reflexão sobre “as aparências de várias ideias, uma após outra, nos nossos espíritos, é o que nos proporciona a ideia de sucessão, e a distância entre quaisquer partes dessa sucessão, ou entre as aparências de duas ideias quaisquer nos nossos espíritos é aquilo a que chamamos duração”. Esta tendência para interiorizar a noção de duração é frequente no pensamento contemporâneo, mas a interiorização nem sempre foi entendida num simples sentido psicológico ou epistemológico. Isto acontece em Bergson, para o qual a duração pura, concreta ou real é o tempo real em oposição à espacialização do tempo. Quando, por exemplo, se diz que o psíquico, tem, entre outros caracteres, o da duração, não se quer significar senão que o psíquico é irredutível à espacialização a que está submetido o tempo por meio da matemática. O tempo matemático e o físico-matemático são por sua vez o resultado da necessidade que a vida se encontra e domina pragmaticamente a realidade. A duração é, contudo, a primeira realidade, para além dos esquemas espaciais, o que é intuitivamente vivido e não simplesmente compreendido ou entendido pelo entendimento. Por isso, o absoluto, entendido à maneira de Bergson, não pode ser um absoluto eterno, mas um absoluto que dura. A concepção do absoluto como eterno — eternidade que Bergson entende como um corte no devir mais que como um recolhimento autêntico do devir — derivam as dificuldades metafísicas do problema do nada; a concepção do absoluto como algo que dura, elimina a possibilidade de o confundir com uma essência lógica ou matemática intemporal. (DFW)