educação medieval

Em comparação até com as fases iniciais do período moderno, a educação na Idade Média foi um luxo sempre reservado à minoria; estava principalmente organizada para benefício do sexo masculino e, na medida em que era acessível ao leigo, o mais provável é que fosse solicitada, na grande maioria dos casos, por aqueles que precisavam adquirir algum conhecimento no governo, na administração ou no comércio, e por aqueles que podiam se permitir dedicar-lhe seu tempo e seus recursos materiais. Na prática, isso significou, na maior parte da Idade Média, demanda aristocrática ou urbana.

Mesmo onde se realizaram esforços no sentido de manter baixos os custos do estudo ou de subsidiar o acesso do pobre, as oportunidades de um indivíduo adquirir educação formal dependiam da facilidade de acesso à sua oferta. Ao longo da Idade Média, era a Igreja que ministrava a educação. Os mosteiros, que tinham empunhado o facho da sabedoria e da erudição através da Era das Trevas, as catedrais e, gradualmente, as escolas paroquiais, formaram uma rede que as autoridades tinham tentado manter durante séculos com êxito muito limitado. Na Alta Idade Média, esse sistema desabrochou plenamente, recebendo seu estímulo do espetacular crescimento das escolas das catedrais no norte da França, o lar da Renascença do século XII, do ponto de vista acadêmico. O desenvolvimento registrado nos séculos XI e XII foi duradouro, recebendo novos estímulos com o surgimento formal e autônomo de universidades a partir do último quartel do século XII e prolongando-se por todo o século XIII; com o aumento das Ordens Mendicantes, que atribuíam ênfase especial à aprendizagem e ao ensino, e, finalmente, com a proliferação, já em fins da Idade Média, de escolas resultantes de doações particulares.

Seria errôneo supor, entretanto, que a Igreja tinha monopólio sobre a educação. No século XIII, muitas cidades, sobretudo na Itália, estavam tomando a iniciativa de contratar professores para ensinar em vários níveis; e há provas evidentes de um surpreendente aumento da alfabetização em algumas dessas cidades. Deve-se somar a isso as escolas palacianas (sendo um dos seus primeiros e mais célebres exemplos a escola do palácio de Carlos Magno) e familiares, as quais poderiam ter eclesiásticos como mestres-escolas mas eram independentemente criadas e dirigidas. De qualquer modo, a escolaridade era apenas um aspecto da educação, que poderia também assumir a forma de treinamento e aprendizado (um papel vital foi desempenhado pelas guildas ou corporações no fornecimento de uma vasta gama de qualificações artesanais e profissionais), ou de ensino particular, informal e mesmo autodidata.

Havia grande divergência entre teoria e prática na estrutura da educação formal. As disciplinas estavam divididas, em termos nocionais, nas sete artes liberais: gramática, retórica e dialética (o Trivium), aritmética, geometria, astronomia e música (o Quadrivium), e as matérias de nível superior, que eram a teologia, o direito e a medicina. Mas, enquanto a divisão das matérias de ensino superior estava estritamente refletida na organização da universidade, pelo menos até o final da Idade Média, no nível inferior, não se tratava na realidade de um programa de estudo mas de uma estrutura conceitual indefinida, no âmbito da qual havia grande liberdade de variação de ênfase e de desenvolvimento. Os professores podiam selecionar e dar maior destaque às matérias de seu próprio interesse, ou discutir aqueles tópicos e textos que consideravam mais importantes para a sua época. Finalmente, alguns, como Hugo de Saint-Victor, propuseram classificações alternativas, se bem que estas continuassem sendo também modelos de teoria pedagógica, muito mais do que causa para uma revolução no que era realmente ensinado. Na prática, o modelo de programa de estudo mostra grande consistência, pelo menos no que se refere à educação básica. No nível elementar, as crianças eram ensinadas a ler, e depois a escrever, cantar e realizar algum computus básico (essencial para o cálculo do calendário cristão). Desde cedo, o saltério figurou com destaque; os salmos podiam ser aprendidos de cor, sem grande compreensão da língua latina.

O nível seguinte centrava-se no latim, passaporte para o mundo cultural sério, para todas as profissões e para uma compreensão mais profunda da Bíblia e dos ritos e doutrinas da Igreja. Aos textos básicos legados pelo período final da Antiguidade, como Ars Minor, de Donato (um breve tratado que descreve as oito partes do discurso), a Gramática de Prisciano, as Fábulas de Esopo, e os Dísticos de Catão (uma coleção de aforismos), foram gradualmente adicionadas as reformulações ou reinterpretações do mesmo material pelos mestres medievais, por vezes mais auxiliares de ensino do que novos textos: a Gramática de Elfric (século X), Doctrinale de Alexandre de Villedieu (c. 1200), Graecismus de Evrard de Béthune (século XIII). As escolas de gramática, como se subentende, ensinavam mais do que uma segunda língua internacional; elas treinavam os estudantes na análise e uso da linguagem (gramática, retórica, dialética, lógica), e esse treinamento, por sua vez, transformava-se gradualmente naqueles ramos da filosofia que, em última instância, preparavam o estudante para os assuntos mais elevados, de natureza universitária. Os elementos do Quadrivium, os quais também poderiam, sem dúvida, ser ensinados em escolas de nível médio, ou escolas de gramática, tornaram-se frequentemente o foco de um tipo diferente de escola, conhecida em sua forma mais humilde como uma escola de “ábaco”, muito próxima de uma escola de comércio na gama de qualificações aí ensinadas (por exemplo, qualificações notariais e dictamen, a arte de escrever cartas).

Embora variassem no tipo e no programa de estudos, as escolas medievais possuíam algumas características essenciais em comum. Na maior parte da Europa, os escolares tinham status clerical (apesar de, no final desse período, isso não significar muito); assim, eles estavam submetidos à jurisdição eclesiástica e eram alvo dos ideais e restrições morais da Igreja. A vida na escola era severa: a punição corporal era parte integrante da educação e o dia escolar era longo e extenuante, embora a folga e o repouso fossem proporcionados, em parte, pelo calendário religioso e, sem dúvida, por tendências dos próprios estudantes.

Talvez o contraste mais fundamental com os sistemas educacionais modernos se relacione ao método de aprendizagem. Na aula, os textos eram usados sobretudo pelos professores; a raridade e o custo dos livros colocavam-nos fora do alcance da maioria dos alunos, muitos dos quais eram afortunados por possuir um saltério, tradicionalmente o primeiro livro dado a uma criança. A sala de aula medieval refletia a natureza preponderantemente oral da cultura medieval, com o professor lendo e explicando o texto, e o estudante absorvendo-o e confiando-o à memória; a capacidade da memória estava altamente desenvolvida na Idade Média. Essa ênfase na transmissão oral impregnou todos os níveis de educação e afetou o método de estudo e exercício (por exemplo, o debate e o diálogo), a estrutura dos compêndios e até mesmo as atitudes para com os auctores estudados. (DIM)

DIcionário da Idade Média