Cid, el (Rodrigo Diaz) (c. 1043-99) Nascido na aldeia de Bivar, perto de Burgos, de uma família de infanzones, o mais baixo grau na hierarquia da nobreza castelhana. Armado cavaleiro por Sancho II de Castela, Rodrigo passou a ser o seu alférez (porta-estandarte mas, de fato, comandante-em-chefe) e derrotou Afonso VI de Leão em Golpejera (1072). Alguns meses depois, o assassinato de Sancho e a volta de Afonso aos tronos de Leão e Castela afastaram Rodrigo do centro do poder. Embora Afonso combinasse o casamento de Rodrigo (1074) com Jimena Diaz, de sangue real leonês, como um gesto de reconciliação, a desconfiança persistiu. (Rodrigo e Jimena não eram aparentados: Diaz não era um sobrenome mas um patronímico, “filho ou filha de Diego”.) Cortesãos invejosos da alta nobreza teciam intrigas contra Rodrigo, a quem viam como uma ameaça, tanto por suas qualidades pessoais quanto por ser membro de uma nova classe vigorosa.
A oportunidade deles chegou em 1081, quando Rodrigo efetuou uma incursão contra o reino muçulmano de Toledo. Foi banido e colocou-se a serviço do emir de Saragoça, cujo exército comandou por vários anos com grande êxito; nada havia de insólito em tais alianças até a invasão dos almorávidas. Aí lhe foi dado o título árabe de sayyid (“senhor”), hispanizado como Cid. Uma reconciliação com o rei Afonso (1087) durou apenas dois anos e, banido de novo, Rodrigo avançou para sudeste, usando seus talentos militares e políticos e seu íntimo conhecimento dos muçulmanos hispânicos para formar o reino de Valência, sua esfera de influência. Manteve os almorávidas em xeque (foram suas as únicas vitórias obtidas contra eles por qualquer general cristão nessa época) e, quando o seu protegido, o rei de Valência, foi assassinado num golpe pró-almorávidas (1092), El Cid sitiou a cidade, que se rendeu após dois anos de cerco. A partir de 1094, Rodrigo governou Vâlência, nominalmente para Afonso, na prática como soberano (por exemplo, nomeou um monge francês de Cluny para bispo). Desbaratou uma ofensiva almorávida e, de novo reconciliado com Afonso, manteve Valência em seu poder até sua morte.
O único filho de Rodrigo e Jimena morreu em combate sem deixar descendência. Uma de suas filhas casou com um príncipe navarro e a outra com o conde de Barcelona. Seus descendentes vieram a ser reis de Castela e de Leão no século XII, e o sangue de Rodrigo penetrou na linhagem real inglesa em meados do século XIII através de Leonor de Castela. El Cid é retratado pelos historiadores árabes como um opressor cruel, mas pela Historia Roderici do século XII e pelas lendas do mosteiro de São Pedro de Cardeña (onde ele e Jimena estão sepultados) como um santo leigo. O homem real poderá destacar-se com maior clareza do Poema del Cid (c. 1207), ainda que boa parte do enredo seja ficção; Rodrigo é apresentado como um governante bravo, leal, sagaz e realista — talvez o único herói épico que se preocupou com sua capacidade em pagar seus soldados. Baladas posteriores, das quais Le Cid de Corneille descende indiretamente, oferecem um quadro mais fantasioso. (DIM)