A palavra egípcia hor, que é o próprio nome de Horus, parece significar exatamente “coração”. Horus seria portanto o “Coração do Mundo”, de acordo com uma designação que se encontra na maior parte das tradições, e que convém aliás de modo perfeito ao conjunto de seu simbolismo, na medida em que é possível percebê-lo. Poderíamos ser tentados, à primeira vista, a aproximar a palavra hor do latim cor, que tem o mesmo sentido, ainda mais porque, nas diferentes línguas, as raízes similares que designam o coração têm como inicial uma letra aspirada ou uma letra gutural, como é o caso, por um lado, de hrid ou hridaya no sânscrito, heart no inglês e herz no alemão, e, por outro lado, ker ou kardion no grego, e o próprio cor (cordis no genetivo) no latim. Mas a raiz comum de todas essas palavras, inclusive a última, é na realidade HRD ou KRD, o que não parece ser o caso da palavra hor. Assim sendo, não se trata nesse caso de uma real identidade de raiz, mas apenas de uma espécie de convergência fonética, que nem por isso deixa de ser muito singular.
Mas o que talvez seja mais notável, e que se liga diretamente ao nosso assunto, é que no hebreu a palavra hor ou har, escrita com a letra heth, significa “caverna”. Não queremos dizer com isso que exista uma ligação etimológica entre a palavra egípcia e a hebraica, embora possam a rigor ter uma origem comum mais ou menos afastada. Mas isso pouco importa no fundo, pois quando se sabe que não pode existir em parte alguma nada que seja puramente fortuito, o paralelo não deixa só por isso de ser digno de interesse. E não é tudo. No hebreu, também, hor ou har, escrito agora com a letra he, significa “montanha”. Se notarmos que heth é, na ordem das letras aspiradas, um reforço ou um endurecimento de he, marcando uma espécie de “compressão”, e que essa letra exprime em si, ideograficamente, uma ideia de limite ou de clausura, vê-se que, pela própria relação entre as duas palavras, a caverna é indicada como o lugar encerrado no interior da montanha, o que é exato tanto literal quanto simbolicamente. Somos assim reconduzidos, uma vez mais, às relações entre a montanha e a caverna que, a seguir, iremos examinar em particular. (Guénon)
A exemplo da representação simbólica do Cristo e Evangelistas, a antiga tradição egípcia figurava, segundo uma disposição similar, Horus no meio de seus quatro filhos. Além disso, nos primeiros tempos do cristianismo, Horus foi, no Egito, tomado frequentemente como um símbolo de Cristo. (Guénon)