O ato intelectual, do qual acabamos de fazer a análise, tinha sua origem no conhecimento sensível, ou nos “phantasmata”. Para Tomás de Aquino, veremos, encontram-se as imagens uma segunda vez no processo intelectual, mas desta vez no termo do conhecimento ou do lado do objeto. Assim, a inteligência nada pode captar se não se volta às imagens “nisi convertendo se ad phantasmata”, sendo esta conversão outra coisa que a simples indicação de uma relação de origem (cf. sobre este assunto: Ia Pa, q. 84, a. 7 e 8; q. 86, a. 1. q. 89, a. 1; Cajetano, in Iam Part. q. 84, a. 7. João de Tomás de Aquino, De Anima, q. 10, a. 4).
Prova experimental.
No artigo 7 da questão 84, que é aqui o texto maior, Tomás de Aquino faz apelo à experiência. Dois fatos tendem a provar a necessidade, para a intelecção, desta volta às imagens: – o fato das lesões corporais que paralisam a atividade da inteligência. Como esta faculdade não utiliza órgão algum, o obstáculo constatado só pode ser relativo às atividades sensíveis que seriam necessárias para a intelecção. Assim, quando a imaginação é falha, não pode haver conhecimento intelectual. – Um segundo fato prova mais diretamente: não é verdade que quando alguém se esforça por compreender alguma coisa, espontaneamente forma imagens nas quais se aplica a considerar o que capta pela inteligência? “Quando aliquis conatur aliquid intelligere format aliqua phantasmata sibi per modum exemplorum, in quibus quasi inspiciat quod intelligere studet”.
Justificação racional.
Estes fatos podem ser justificados a priori, pois a volta às imagens está implicada nas condições mesmas do objeto próprio da inteligência humana. Sabemos, com é a ” quididade”, isto é, a efeito, que este objeto próprio natureza dos coisas sensíveis . Ora, a esta natureza pertence existir só no singular, isto é, em uma matéria corporal: assim, compete à natureza da pedra existir em tal pedra determinada. Donde se segue que a natureza da pedra, ou de não importa que coisa material, só pode ser conhecida “completamente” e “em verdade” se for captada como existindo no particular, o qual só pode ser apreendido pelos sentidos ou nas imagens. Para a inteligência atingir seu objeto próprio deve, portanto, necessariamente voltar às imagens para nelas considerar a natureza universal contida no particular:
“Intellectus autem humani qui est conjunctus corpori, proprium objectum est quidditas, sive natura in materia corporali existens . . . De ratione autem hujus naturae est quod in aliquo indivíduo existat, quod non est absque materia corporali: sicut de ratione naturae equï. est quod sit in hoc equo. Unde natura lapidis vel cujuscumque materialis rei cognosci non potest complete et vere nisi Secundum quod cognoscitur ut in particulari existens. Particulare autem apprehendimus per sensum et imaginationem. Et ideo necesse est ad hoc quod intellectus intelligat suum objectum proprium, quod convertat se ad phantasmata ut speculetur naturam universalem in particulari existentem”.
Conclusão: solidariedade das atividades intelectual e imaginativa.
As observações precedentes manifestam claramente que, embora se distinguindo nitidamente no tomismo o conhecimento intelectual e o conhecimento sensível, deve-se ter o cuidado de não se isolar uma e outra destas atividades. As imagens encontram-se, ao mesmo tempo, no princípio do conhecimento material como sua matéria e, no seu termo, enquanto solidárias com o objeto. O singular poderá assim vir a ser indiretamente o objeto de nossa inteligência e nossa vida que, praticamente se passa no concreto, deverá continuamente a ele se referir. Inicialmente e essencialmente faculdade do abstrato e do universal, revela-se nossa inteligência igualmente como a faculdade do individual sensível: riqueza e complexidade de uma filosofia cuja aparente simplicidade das fórmulas muitas vezes engana. (Gardeil)
Para os gnósticos, termo referente ao grego, eikôn: semelhança, seja o reflexo do Pai invisível, seja o mundo psíquico em relação à realidade do mundo pneumático, seja a criação contrafeita do demiurgo. (BNH)