O problema da imortalidade é o do destino da existência depois da morte ou, por outras palavras, o da sobrevivência da existência. As diversas religiões, filosofias e concepções do mundo têm dado diferentes respostas ao problema. Umas sustentam que ao sobrevir a morte, a alma do homem emigra para outro corpo, reencarna. A série de transmigrações ou reencarnações constitui uma recompensa ou um castigo. Se há castigo, a alma emigrará para um corpo inferior; se há recompensa, para um superior, até ficar incorporada, na sua última etapa, a um astro. Esta ideia foi sustentada por muitas culturas das chamadas primitivas, mas também por outras de vasto desenvolvimento intelectual, como a dos órficos, esta ideia órfica foi retomada pelos pitagóricos e influiu grandemente em Platão. Uma variante da ideia anterior consiste em sustentar que toda a transmigração é um castigo. Para o evitar há que levar uma vida pura, único modo de suprimir os renascimentos e submergir a existência no Nirvana. Esta é a concepção de Buda. No Egito, e em outros povos primitivos, esteve vigente uma concepção muito diferente. Segundo esta, a sobrevivência dos espíritos depois da morte depende da situação social de cada indivíduo. Deste modo, só alguns membros da comunidade sobrevivem. Posteriormente, impôs-se entre eles, a ideai de uma sobrevivência para todos os membros da comunidade. Noutras culturas acreditou-se que a sobrevivência não é individual, mas sim que ao morrerem as almas se incorporam numa alma única. Esta ideia foi elaborada filosoficamente por algumas interpretações dadas à teoria aristotélica do entendimento agente. Para os estoicos, os homens são devolvidos, ao morrerem, ao lugar donde procedem, depósito indiferenciado da natureza, que é o princípio da realidade. Por seu lado, a concepção naturalista nega toda a imortalidade. A vida do homem reduz-se ao seu corpo, e ao sobrevir a morte acontece a dissolução completa da existência humana individual. Pelo contrário, algumas religiões em especial o cristianismo, têm sustentado a sobrevivência individual das almas. E o catolicismo ensina a sobrevivência espiritual das almas acompanhada logo pela ressurreição dos corpos. Muitos filósofos têm debatido acerca do problema da imortalidade. O primeiro que o tratou com amplitude e profundidade foi Platão e as suas ideias influíram no desenvolvimento posterior da questão, tanto nos que aceitaram as suas teses como nos que as rejeitaram. Para Platão há depois da morte uma existência mais plena, sobretudo quando a alma foi purificada. A encarnação pode ser necessária, mas tem um termo que a alma atinge quando repousa no seu verdadeiro reino. Para Platão a ideia da imortalidade pode ser demonstrada por intermédio da razão; esta demonstração é a que tratou de levar a cabo no seu diálogo FÉDON. Os argumentos platônicos costumam ser considerados racionais, embora neles se encontrem algumas intuições que o não são. Por exemplo a intuição de que a alma resiste ao corpo; o corpo seria um obstáculo para ela, que está destinada a viver num mundo puro, comparável com o das ideias. Além dos argumentos platônicos, tiveram muita influência os chamados aristotélico-tomistas, segundo os quais há um princípio intelectual incorpóreo e imaterial, que tem operações próprias à parte do corpo e é subsistente, quer dizer, imortal. Estes argumento foram minuciosamente desenvolvidos pela teoria tomista. Alguns autores afirmam que a razão teórica ou especulativa é incapaz de proporcionar qualquer prova, e que em geral não há provas nem argumentos decisivos, nem racionais nem empíricos, em favor da imortalidade. que não existam tais provas não quer dizer, para estes autores, que a alma não seja imortal. O que sucede é que o é por motivos muito diferentes dos que costumam aduzir as provas ou argumentos; No caso de Kant, porque a imortalidade é um postulado da razão prática. (DFW)