Em termos teológicos, uma indulgência era tecnicamente a remissão do castigo temporal devido ao cometimento de um pecado, cuja culpa já tinha sido perdoada, pela aplicação dos méritos de Cristo. Originando-se na comutação das punições penitenciais, as indulgências ganharam importância através do conceito cristão, profundamente enraizado, da solidariedade da comunidade de santos.
A partir do século XI, foram usadas a fim de canalizar atividades penitenciais para fins particulares, sendo um notável exemplo a indulgência plena de Urbano II para quem apoiasse a Primeira Cruzada (1095). As Cruzadas posteriores foram igualmente amparadas por indulgências, mas o crescimento da prática de comutação do voto solene do cruzado por um pagamento monetário aviltou a força espiritual da indulgência. Mais comum era o uso de indulgências a fim de angariar os fundos necessários para obras públicas, incluindo a construção de igrejas, a assistência aos enfermos e pobres, a conservação de estradas, a construção de pontes e a educação. Guilherme de Auvergne, bispo de Paris (1228-49) e eminente teólogo, justificou essas diversas penitências como manifestações do amor cristão pelo próximo.
A extensão dos abusos era cada vez mais gritante, e reformadores desde João de Salisbury em diante advertiram sobre os perigos dessa prática. Sob crescente pressão financeira, várias autoridades eclesiásticas, incluindo Papado, recorreram a práticas duvidosas, sobretudo no emprego de monges vendedores de indulgências, assim se concretizando os piores temores dos partidários da Reforma. (DIM)