Povos germânicos pagãos, comumente conhecidos como saxões, e que por um largo período tinham assolado o litoral da Grã-Bretanha romana com repetidas incursões, foram autorizados pela primeira vez a instalar-se na parte oriental da ilha no século IV, em retribuição a seus serviços como combatentes. Em meados do século seguinte, porém, entraram em conflito com os chefes britânicos que tinham assumido o controle após o colapso do domínio romano, e ajudados por nova afluência de colonizadores, iniciaram a conquista de toda a Grã-Bretanha oriental. Embora o avanço saxônico tivesse sido sustado por breve período por volta de 500, a subjugação da área que passou a ser conhecida como England (Inglaterra) estava praticamente concluída em fins do século VII.

Nessa época, os bandos de guerra originais já haviam se agrupado em numerosos pequenos reinos, cada um deles dominado por uma aristocracia guerreira liderada por um rei, que governava em virtude de seu poder militar. Os nativos britânicos foram reduzidos a um status servil e adotaram gradualmente a língua e os costumes de seus conquistadores saxões. Assim fazendo, a maioria afastou-se do Cristianismo, embora este continuasse florescendo nos reinos britânicos restantes, situados nas regiões norte e oeste da ilha.

A conversão dos anglo-saxões foi iniciada pela Igreja romana em fins do século VI. Transcorreu quase um século antes que todos os reis e seus seguidores imediatos estivessem convertidos, e só muitíssimo tempo depois o Cristianismo seria aceito no interior do país. Contudo, em virtude de sua organização diocesana, calcada em um sistema paroquial ainda longe de ser perfeito quando da conquista normanda, a Igreja tornou-se a única autoridade que se sobrepunha às fronteiras dos vários reinos.

As relações entre os reinos anglo-saxões eram de guerra incessante, no decorrer das quais os reis de Nortúmbria (no século VII), Mércia (no século VIII) e Wessex (no início do século IX) se asseguraram sucessivamente da bretwalda ou suserania sobre os outros. O governo de Offa de Mércia, que mandou construir a grande vala para definir a fronteira entre seus súditos e os galeses, no século VIII, foi de especial importância. Seu uso de títulos tais como rex Anglorum assinala a crença em que os ingleses eram um só povo que podia ser submetido a um só senhor. Não obstante, o momento culminante no surgimento de uma monarquia inglesa unida ocorreu no século IX com as invasões vikings, pondo fim a dois séculos em que a Inglaterra estivera livre de ataques externos. Ao destruírem todos os outros reinos anglo-saxões, eles deixaram Wessex, no sudoeste, na liderança incontestável da comunidade inglesa.

Com Alfredo e seus sucessores, o território povoado pelos dinamarqueses foi sistematicamente reconquistado e finalmente dividido em condados, segundo o modelo de Wessex. No terceiro quartel do século X, já tinham conseguido criar um reino inglês razoavelmente unido e duradouro, com um sistema tributário e um sistema monetário unificados. Apesar de um período de domínio dinamarquês (1016-42), a administração real desenvolveu-se firmemente e, no final do período anglo-saxão, o secretariado era relativamente avançado, emitindo editos em inglês, com a chancela real, para os funcionários régios e os barões dos condados.

A Conquista Normanda, a última ocasião em que a Inglaterra foi invadida com êxito e colonizada por um povo do continente, encaminhou o seu desenvolvimento em novas direções: a classe superior anglo-saxônica foi substituída por uma sociedade feudal cuidadosamente estruturada, com costumes e disposições sociais bem diferentes; os fortes laços entre a Igreja inglesa e o Papado foram reforçados, os bispados e abadias convertidos em baronias feudais. Mas embora os normandos de fala francesa abandonassem o uso do inglês a favor do latim como língua da administração, eles adotaram e desenvolveram o sistema administrativo anglo-saxônico. Isso tornou possível a compilação do Domesday Book, o mais impressionante registro de uma administração real de seu tempo. A Conquista integrou também a Inglaterra nas questões europeias, unindo ainda mais a França e a Inglaterra em seus destinos. Durante um século e meio, os reis ingleses também foram senhores de vastos domínios na França e, com os angevinos, no final do século XII, seus interesses centraram-se em suas possessões francesas. Esse período só terminou com a perda de todos esses territórios, à exceção da Gasconha, no início do século XIII.

A casa real normando-angevina deu origem aos principais órgãos de uma administração central elaboradamente organizada, que se sustentou tributando a riqueza dos latifundiários e o comércio dos mercadores. Recursos financeiros mais vultosos tornaram possível a conquista do País de Gales no final do século XIII, e as prolongadas guerras com a Escócia, cuja fronteira com a Inglaterra foi fixada em 1237. Também permitiram que reis da Inglaterra reivindicassem o trono francês e, durante dois períodos — as décadas de 1350 e de 1410 —, conquistassem a maior parte da França.

Apesar de seu crescente poder, os reis ingleses não podiam governar de maneira efetiva sem a cooperação dos grandes proprietários de terras. No início, as concessões régias adotaram a forma de edição e reedição da Magna Carta. Mais tarde, a cooperação foi assegurada por “parlamentações” entre o rei, os lordes e, finalmente, representantes também dos comuns. Mesmo assim, no final da Idade Média, os monarcas ingleses estavam livres da necessidade de consultar sistematicamente seus súditos.

Nesse meio tempo, profundas mudanças tinham ocorrido na estrutura e caráter da sociedade inglesa. A Peste Negra (1349) e epidemias posteriores causaram um declínio catastrófico na população, o que ajudou a mudar as relações entre senhores e camponeses. Apesar da derrota da Revolta dos Camponeses em 1381, os lordes abandonaram o regime de cultivo direto de suas propriedades e o servo da gleba desapareceu gradualmente. Finalmente, foi demonstrado que a identidade do inglês como povo sobrevivera à Conquista. A língua inglesa continuava a ser usada na fala, e algumas vezes na escrita, e do século XIV em diante, ao tornar-se socialmente aceitável, seu uso crescente em obras literárias refletiu um grau cada vez maior de autoconsciência nacional. (DIM)