Inocêncio III papa 1198-1216 (n. 1161) Um dos mais fortes e mais eficientes de todos os papas medievais, Inocêncio III esteve ativo em duas principais esferas interligadas. Durante seu pontificado, os princípios de monarquia papal estavam no auge. Ele foi um zeloso reformador da Igreja na acepção tradicional, ansioso para que a Igreja cristã, em toda a Cristandade, pusesse em ordem a sua própria casa moral. Como monarca papal, ele é principalmente lembrado por suas ações em relação ao Império e à monarquia alemã, e era habitual entre os historiadores nacionalistas alemães atribuir grande parte da culpa pelo fracasso da Alemanha em sair unida da Idade Média à malevolência do relativamente jovem e muito hábil papa.
Eleito para a Santa Sé aos 37 anos de idade, Inocêncio III fixou como um dos principais objetivos diplomáticos de sua carreira, separar a Alemanha da Itália, manter dividida a Itália setentrional da meridional (incluindo a Sicília), e salvaguardar a integridade política de Roma e dos Estados pontifícios. Para conseguir tudo isso, mostrou-se disposto a transferir seu apoio para o candidato guelfo ao trono imperial, Oto IV de Brunswick, para a casa Hohenstaufen e, em última instância, para o seu tutelado, o jovem Frederico, rei da Sicília desde a infância e imperador em 1212(20)-50. Por uma daquelas profundas ironias da história, Frederico tornou-se um arquiinimigo do Papado; mas havia uma lógica fria por trás da política de Inocêncio, em sua tentativa de obter compromissos de que Roma deveria estar livre.
Por toda Europa, suas intervenções foram coerentes, conjugando questões morais com asserções de superioridade papal. O seu êxito mais espetacular aconteceu na Inglaterra, quando após uma luta acérrima em torno da nomeação para a sé de Canterbury, colocou o reino de João Sem Terra sob um interdito que só foi levantado depois que o monarca capitulou e declarou seu reino vassalo do Papado, em termos feudais. Na França, após uma luta prolongada, logrou a reconciliação do rei francês Filipe Augusto com sua esposa dinamarquesa Ingeborg, mas progrediu pouco na questão fundamental dos direitos eclesiásticos em cortes feudais. Nas comunidades mais periféricas, Espanha, Hungria e Polônia, ele e seus legados obtiveram maior sucesso na imposição de ideias papais; o mesmo ocorreu na Escandinávia, com exceção da Noruega, onde o rei Sverre resistiu às solicitações papais.
A atitude de Inocêncio em relação às Cruzadas também estava muito ligada às suas ideias de monarquia papal, se bem que, nesse capítulo, algumas ironias se apresentam. Apoiou a Quarta Cruzada, apesar de suas apreensões quanto ao desvio contra Estados cristãos, e tentou impor autoridade romana nos Balcãs, na esteira da tomada de Constantinopla pelos cruzados em 1204. Uma profunda preocupação com a heresia no sul da França levou-o a pregar a Cruzada Albigense, para vantagem política, em última análise, do rei francês e da nobreza da França setentrional.
Instruído em teologia e direito, conservou uma inabalável preocupação com a saúde moral e institucional da Igreja e, em dois aspectos, suas realizações provaram ser permanentes. Apesar das semelhanças superficiais entre os ensinamentos de São Francisco e alguns movimentos heréticos, Inocêncio III reconheceu o valor dos frades e seu apoio aos franciscanos e dominicanos (extensamente usados como pregadores e inquisidores) acrescentou uma nova e intensa dimensão à vida espiritual do Ocidente. A crescente ênfase sobre definição e legalidade atingiu seu clímax perto do final de seu pontificado, no IV Concílio de Latrão, realizado em Roma em 1215. Seus decretos, descritos como “um projeto básico de reforma”, reúnem todos os ingredientes para uma Igreja reformada com a iniciativa moral promanando do centro. A falta de material administrativo e de apoio local fez com que boa parte do efeito fosse mais forte na teoria do que na prática, mas o Concílio assinalou um ponto alto no prestígio papal durante a Idade Média. (DIM)