Questão das Investiduras
Designação adotada para a grande crise que assolou as relações entre o Império e o Papado, e, na verdade, entre a Igreja e o Estado de um modo geral, no período que vai de 1075 a 1122 na Europa ocidental. Assinalou o fim do período do chamado “compromisso carolíngio”, quando a Igreja estava subordinada aos reis e quando estes, sobretudo os imperadores, reivindicavam poderes teocráticos. Marcou também o início do período em que o poder potencial do Papado medieval se concretizou não só no campo espiritual mas também no secular e político; um período de “monarquia papal”, como por vezes é chamado.
A investidura — o ato físico de investir um clérigo com as insígnias de seu cargo — era apenas mais um dos símbolos exteriores da luta. Questões mais profundas diziam respeito à natureza da Igreja: a posição especial do papa como sucessor de São Pedro; receios em torno da crescente secularização da Igreja e matérias específicas no tocante à liberdade de eleição para bispados e abadias; a rejeição da simonia; a defesa do celibato do clero; e a liberdade da Igreja para insistir em seu próprio modelo de reforma moral. Entretanto, foi a questão de um decreto papal (1075) proibindo a investidura laica que ajudou a deflagrar a luta e — após os dramáticos traumas de humilhação imperial em Canossa, recuperação imperial e a morte de Gregório VII no exílio (1085), e a asserção de liderança de Urbano II na Cristandade ao pregar a I Cruzada (1095) — foi precisamente a Questão das Investiduras que provou ser capaz de uma solução de compromisso.
A luta não estava limitada ao Império, e em 1106 e 1107 foram conseguidos acordos, por concessões mútuas, na França e na Inglaterra, pelos quais a hierarquia eclesiástica ficava no controle dos processos de investidura, ao mesmo tempo que se salvaguardava o interesse real na nomeação de bispos, que eram também grandes senhores feudais, administradores e servidores reais. A posição alemã e imperial mostrou-se mais problemática. Num dado momento, em 1111, o papa Pascoal II ofereceu-se para renunciar à posse de grandes feudos em troca da liberdade de eleger e investir, uma solução tão profundamente perturbadora e inaceitável para os bispos quanto para os poderes seculares. Chegou-se finalmente a um ajuste na Alemanha e no Sacro Império pela Concordata de Worms, em 1122. O imperador renunciou ao uso do báculo e do anel ao proceder à investidura de um eclesiástico, mas recebeu preito de vassalagem, na Alemanha, dos bispos eleitos por suas temporalidades, antes de serem sagrados. A hierarquia eclesiástica tinha afirmado seu direito de manter o controle simbólico e espiritual, mas os governantes seculares ainda exerciam um extenso poder prático sobre as nomeações e controle das temporalidades. (DIM)