O labirinto está representado nas portas de Cumas, como se, de uma certa forma, essa figuração fizesse as vezes do próprio labirinto. Poderíamos dizer que Eneias, enquanto se detém à entrada para examiná-la, percorre de fato o labirinto, se não corporalmente, pelo menos de forma mental. Por outro lado, não parece que esse modo de acesso tenha sido sempre reservado aos santuários construídos em cavernas ou a eles assimilados simbolicamente, visto que, como já explicamos, não se trata de um traço comum a todas as formas tradicionais. A razão de ser do labirinto, tal como foi definida mais acima, pode convir de igual modo ao acesso a todo local de iniciação, a todo santuário destinado “aos mistérios” e não aos ritos públicos. Feita essa ressalva, existe, contudo, uma razão para se pensar que, ao menos na origem, o uso do labirinto esteve ligado em particular à caverna iniciática, pois ambos parecem ter pertencido, de início, às mesmas formas tradicionais da época dos “homens de pedra” (v. idade da pedra). Devem ter começado estreitamente unidos, embora não tenham permanecido assim de modo invariável em todas as formas posteriores.
Consideremos o caso em que o labirinto está em conexão com a caverna, rodeando-a com suas sinuosidades e nela desembocando por fim. No conjunto assim constituído, a caverna ocupa o ponto mais interior e central, o que corresponde exatamente à ideia de centro espiritual e concorda, também, com o simbolismo equivalente do coração, a respeito do qual nos propomos a voltar. É preciso notar ainda que quando a caverna é ao mesmo tempo local da morte iniciática e do “segundo nascimento”, deve então ser considerada como dando acesso, não só aos domínios subterrâneos ou “infernais”, mas também aos domínios supraterrestres. Isso corresponde também à noção de ponto central, que se constitui, tanto na ordem macrocósmica quanto na ordem microcósmica, em realizador da comunicação com todos os estados superiores e inferiores. É só assim que a caverna pode ser, como dissemos, a imagem completa do mundo, na medida em que todos esses estados devem refletir-se nela de igual modo. Se fosse de outra maneira, a assimilação de sua abóbada ao céu seria absolutamente incompreensível. Mas, por outro lado, se é na própria caverna que, entre a morte iniciática e o “segundo nascimento”, se realiza a “descida dos Infernos”, torna-se evidente não ser possível considerar que essa descida seja representada pelo percurso do labirinto. Cabe, então, perguntar ao que o labirinto corresponde. Na realidade, refere-se às “trevas exteriores”, às quais já nos referimos e que podem ser perfeitamente aplicados aos estados “errantes”, se nos for permitido empregar essa palavra, que expressa de modo exato o percurso do labirinto. [Guénon]