O duplo sentido de receptividade e desabrochar da manifestação da flor está particularmente claro no caso do lótus, que é a flor simbólica por excelência no Oriente, e que tem como característica especial desabrochar na superfície das águas, que por sua vez, como já tivemos ocasião de explicar, representa sempre o domínio de um certo estado de manifestação, ou o plano de reflexão do “Raio Celeste”, que exprime a influência de Purusha, exercendo-se sobre esse domínio para realizar as possibilidades que nele estão contidas potencialmente, envoltas na indiferenciação primordial de Prakriti. (Guénon)
O lótus tem um simbolismo com múltiplos aspectos; num desses aspectos, é empregado para representar os diversos centros, mesmo secundários, do ser humano, tanto os centros fisiológicos (plexos nervosos, em especial), como sobretudo os centros psíquicos (que correspondem a esses mesmos plexos em virtude da ligação existente entre o estado corporal e o estado sutil no composto que constitui propriamente a individualidade humana). Tais centros, na tradição hindu, são habitualmente denominados “lótus” (padmas ou kamalas), e aparecem figurados com diferentes números de pétalas, tendo cada número uma significação simbólica, do mesmo modo que as cores que lhe são atribuídas (sem falar de certos sons que também correspondem a cada um, ou seja, as mantras que se referem a diversas modalidades vibratórias, em harmonia com as faculdades especiais regidas respectivamente pelos centros em questão e que procedem, de certo modo, de sua irradiação, representada pelo desabrochar das pétalas do lótus. Os centros são também denominados “rodas” (chakras), o que, como podemos indicar de passagem, confirma ainda a estreita relação que existe de um modo geral entre o simbolismo da roda e o das flores tais como o lótus e a rosa. (Guénon)
Sabe-se que, na tradição hindu, o Mundo é, às vezes, representado sob a forma de um lótus, em cujo centro se ergue o Meru, a “montanha polar”. (Guénon)