Anos atrás, um dos meus professores da Universidade de Bucareste teve a oportunidade de assistir a uma série de conferências dadas pelo famoso historiador Theodore Mommsen. Naquela época, no início da última década do século passado, Mommsen já estava muito velho, embora sua mente estivesse ainda lúcida e armazenasse uma memória surpreendentemente completa e precisa. Em sua primeira conferência, Mommsen estava descrevendo Atenas do tempo de Sócrates. Ele foi ao quadro negro e esboçou, de cabeça, o plano da cidade como era no quinto século; Então continuou, indicando a localização dos templos e edifícios públicos e mostrando onde estavam localizadas algumas das famosas fontes e bosques. Foi especialmente impressionante sua reconstrução nítida do cenário de Fedro. Depois de citar a passagem em que Sócrates pergunta onde Lísias está hospedado, e Fedro responde que ele estava na casa de Epícrate, Mommsen assinalou a possível localização da casa desse último, explicando que o texto afirma que “a casa onde Mórico costumava viver” era “perto do templo de Zeus Olímpico”. Mommsen continuou delineando o caminho que Sócrates e Fedro tomaram quando seguiram o curso do Rio Ilisso, e então indicou o provável lugar onde eles pararam, e onde se deu o famoso diálogo “no sítio tranquilo” “onde crescia o alto plátano”.
Assustado pela surpreendente mostra de erudição, memória e sensibilidade literária de Mommsen, meu professor relutou em deixar imediatamente o anfiteatro depois da conferência. Foi quando ele viu um criado idoso se adiantar e gentilmente tomar o braço de Mommsen guiando-o para fora do anfiteatro. Então um dos estudantes ainda presentes explicou que o famoso historiador não sabia como ir para casa sozinho. A maior autoridade viva, sobre Atenas do quinto século, achava-se completamente perdida em sua própria cidade, a Berlim do Rei Guilherme III. (Eliade)