prática sexual

A prática sexual ritualística, o ato de escolher as emissões genitais e seu consumo cerimonial como sacramento foram também realizados por uma das seitas gnósticas libertinas, a dos fibionistas. Discutiremos sua extravagante teologia após analisar a série de analogias Deus-espírito-luz-sêmen no Irã e entre os gnósticos (ver adiante, p. 117-20). Creio, porem, que não devemos terminar essas observações sobre o maithuna tântrico sem enfatizar mais uma vez o seu caráter cerimonial. Deve-se levar em consideração a insistência com que os autores tântricos afirmam que maithuna não é uma relação sexual profana. Chega-se à conclusão de que omaithunu não traz nenhum enriquecimento a mais que uma relação sexual comum, quando praticado sem preparação espiritual e técnica prévia. Por outro lado, devemos notar o caráter paradoxal da doutrina tântrica básica, tanto na tradição hindu como na budista. Desde os upanixades acreditava-se que a gnosis redentora bastava para “projetar” o rishi além do bem e do mal. “Aquele que sabe disso, embora cometa muito mal, o desfaz, tornando-se livre, puro, imutável e eterno.” (Brhadaranyaka Up. V. 14.8). O autor tântrico Indrabhuti afirma: “Pelos mesmos atos que levam alguns homens ao fogo do inferno por milhares de anos o iogue alcança a sua salvação eterna”. Os Tantras budistas estão filosoficamente fundamentados na doutrina madhyainika da unidade do Nirvana e samsara, do Absoluto (ou “realidade última”) e da experiência humana (ou “não-ser”). Dessa união de opostos resulta uma situação paradoxal. O jivan-mukta hindu, o “liberado em vida”, vive no tempo e simultaneamente fora dele, na imortalidade: ele está na vida e fora dela, “livre”, etc. (Eliade)

Mircea Eliade