A história de Roma, bem como a história de outras cidades ou povos, começa com a fundação da cidade; o que quer dizer ser a fundação o mesmo que uma cosmogonia. Cada nova cidade representa um novo começo do mundo. Conforme sabemos da lenda de Rômulo, a abertura do fosso circular, o sulcus primigenius, queria dizer a fundação das muralhas da cidade. Os autores clássicos foram tentados a derivar a palavra urbs (“cidade”) de urvum, a curva da relha de arado, ou urvo “eu lavro em círculo”; alguns deles derivaram urbs de orbis, objeto redondo, um globo, o mundo. Sérvio menciona “o costume dos antigos (que decretava) que, do mesmo modo como uma cidade foi fundada pelo uso do arado, também devia ser destruída pelo mesmo rito pelo qual havia sido fundada”.5

No centro de Roma havia uma abertura, mundus, o ponto de comunicação entre o mundo terrestre e as regiões inferiores. Roscher, daí, interpretou o mundus como um omphalos (ou seja, o umbigo da terra); a cidade em que havia um mundus era considerada como situada no centro do mundo, no centro do orbis terrarum.

Também já se propôs corretamente que a expressão Roma quadrada devesse ser compreendida não como sendo de forma quadrada, mas como sendo dividida em quatro partes. A cosmologia romana baseava-se na imagem da terra, dividida em quatro regiões. (Eliade)

Mircea Eliade