Chevalier
Todas essas formas da expressão que contêm imagens possuem em comum o fato de serem signos e de não ultrapassarem o nível da significação. São meios de comunicação, no plano do conhecimento imaginativo ou intelectual, que desempenham o papel de espelho, mas que não saem dos limites da representação. Símbolo arrefecido, dirá Hegel, da alegoria; semântica dessecada em semiologia, precisará Gilbert Durand.
O símbolo diferencia-se essencialmente do signo por ser, este último, uma convenção arbitrária que deixa alheios um ao outro o significante e o significado [objeto ou sujeito], ao passo que o símbolo pressupõe homogeneidade do significante e do significado no sentido de um dinamismo organizador.
[…]Vê-se, consequentemente, que os símbolos algébricos, matemáticos e científicos são apenas signos cujo alcance convencional está cuidadosamente definido pelos institutos de padronização. Não poderia haver ciência exata que se exprimisse em símbolos, no sentido preciso do termo. O conhecimento objetivo, de que fala Jacques Monod, tende a eliminar o que resta de simbólico na linguagem, para reter apenas a medida exata. Não passa de um abuso de palavras, aliás bastante compreensível, denominar de símbolos todos aqueles signos cujo objetivo é o de indicar números imaginários, quantidades negativas, diferenças infinitesimais etc. Mas seria um erro acreditar que a abstração crescente da linguagem científica conduza ao símbolo; o símbolo é pleno de realidades concretas. A abstração esvazia o símbolo e gera o signo; a arte, ao contrário, evita o signo e alimenta o símbolo.
Certas formulações dogmáticas são igualmente chamadas de símbolos da fé; são declarações oficiais, cultuais, em virtude das quais os iniciados numa fé, num rito ou numa sociedade religiosa se reconhecem entre si; na Antiguidade, os adoradores de Cibele e de Mitra tinham seus símbolos; da mesma maneira, entre os cristãos, a partir do símbolo dos Apóstolos, os diversos Credos, o de Niceia, o da Calcedonia e o de Constantinopla receberam a denominação de símbolos. Na realidade, nenhum deles possui o valor próprio do símbolo, sendo apenas signos de reconhecimento entre crentes e a expressão das verdades de sua fé. Essas verdades são, indubitavelmente, de ordem transcendente e as palavras são empregadas, na maior parte das vezes, num sentido analógico; essas profissões de fé, porém, não são símbolos de modo algum, a menos que se esvaziassem os enunciados dogmáticos de toda significação própria ou que fossem reduzidos a mitos. Mas se, além de seu significado objetivo, esses Credos forem considerados como centros de uma adesão e de uma profissão de fé subjetivamente transformantes, tornar-se-ão símbolos da unidade dos crentes, indicando o sentido de sua orientação interior. [DS]
Guénon
A forma simbólica dos signos empregados na escrita pode ter sofrido modificações correspondentes a readaptações tradicionais posteriores, tal como a que ocorreu com o hebreu depois do cativeiro de Babilônia; dizemos que se trata de uma readaptação porque é improvável que a antiga escrita se tenha realmente perdido num curto período de setenta anos, e é surpreendente que isso em geral não seja percebido. Fatos do mesmo gênero, em épocas mais ou menos afastadas, devem ter-se produzido de igual modo com outras escritas, principalmente com o alfabeto sânscrito e, em certa medida, com os ideogramas chineses. [Guénon]