É evidente que, no simbolismo geral da passagem das águas, considerada condutora “da morte para a imortalidade”, a travessia por meio de uma ponte ou de um vau só corresponde ao caso em que a passagem se efetua de uma margem à outra (v. margens), excluindo-se os outros descritos como o remontar de uma corrente em direção à sua fonte, ou, ao contrário, como a descida para o mar, nos quais a viagem deve necessariamente realizar-se por outros meios, por exemplo, conforme o simbolismo da navegação, o qual aliás é aplicável a todos os casos. (Guénon)
O segundo tipo de caminho do peregrino, que se refere ao simbolismo da travessia de uma margem à outra, é sem dúvida o mais habitual e conhecido. A “passagem da ponte” (que também pode ser de um vau) encontra-se em quase todas as tradições e também, particularmente, em certos rituais iniciáticos. Decorre disso a significação simbólica de certas palavras tais como Pontifex e Tirthankara (v. pontífice); daí também, no sânscrito, diversos termos que contêm etimologicamente a ideia de “atravessar”, entre os quais Avatara, que exprime literalmente uma “travessia descendente” (avatarana), isto é, a “descida” de um Salvador.
A travessia pode também efetuar-se sobre uma jangada ou um barco, o que se liga então ao simbolismo muito geral da navegação. O rio que se atravessa desse modo é especialmente o “rio da morte”; a margem da qual se parte é o mundo submetido à mudança, isto é, o domínio da existência manifestada (considerada em particular, com maior frequência, em seu estado humano e corporal, visto que é deste que atualmente devemos partir de fato), e a “outra margem” é o Nirvana, estado do ser que está definitivamente libertado da morte. (Guénon)