trindade

(in. Trinity; fr. Trinité; al. Dreifaltigkeit).

Um dos dogmas fundamentais do cristianismo, que afirma a unidade da substância divina na trindade das pessoas. A fórmula desse dogma foi fixada pelo Concilio de Niceia em 325, e em sua formulação desempenharam papéis importantes a obra do bispo Atanásio e a polêmica contra a doutrina de Ário, que tendia a acentuar a subordinação do Filho em relação ao Pai e praticamente ignorava a terceira pessoa da Trindade. A explicação clássica desse dogma (assim como do dogma da encarnação) foi dada por Tomás de Aquino, por meio do conceito da relação. A relação, por um lado, constitui as pessoas divinas na sua distinção e, por outro, identifica-se com a mesma e única essência divina. As pessoas divinas são constituídas por suas relações de origem: o Pai, pela paternidade (ou seja, pela relação com o Filho); o Filho, pela filiação ou geração (ou seja, pela relação com o Pai); o Espírito, pelo amor (ou seja, pela relação recíproca de Pai e Filho). Essas relações em Deus não são acidentais (nada existe de acidental em Deus) mas reais; subsistem realmente na substância divina. Portanto, a substância divina em sua unidade, ao implicar as relações, implica as diferenças das pessoas (Suma Teológica, I, q. 27-32 e esp. q. 29, a. 4). Esta interpretação basta, segundo Tomás de Aquino, para mostrar que “o que a fé revela não é impossível”. Do ponto de vista lógico, implica uma doutrina historicamente importante sobre a natureza das relações (v. relação).

No último período da escolástica, porém, o dogma da trindade recebeu duas interpretações: foi considerado “verdade prática”, por Duns Scot (Op. Ox., Prol. q. 4, n. 31), ou algo que está além de qualquer possibilidade de entendimento, como fez Ockham (In Sent., I. d. 30, q. 1 B).

O dogma da trindade também foi aceito pelas igrejas protestantes, com exceção da tendência representada pelo socinianismo, que retomou as doutrinas de tipo ariano, comuns nos primeiros séculos do cristianismo. Essas doutrinas foram retomadas pelos chamados unitários, que constituíram um movimento religioso difundido principalmente na Inglaterra e na América do Norte a partir da segunda metade do séc. XVIII (v. unitarismo). (Abbagnano)

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