A vida é um sono, e pensar em Deus é despertar-se.


A vida não é, como creem as crianças e os mundanos, uma espécie de espaço pleno de possibilidade que se oferecem a nosso capricho; é um caminho que se vai estreitando desde o momento presenta até a morte. Ao final deste caminho está a morte e o encontro com Deus, e depois a eternidade. Agora bem, todas estas qualidade estão já presentes na oração, na atualidade intemporal da Presença divina.


Que é o mundo senão um fluxo de formas, e que é a vida senão uma taça que, aparentemente, se esvazia entre duas noites? E que é a oração senão o único ponto estável – feito de paz e luz – neste universo de sono, e a porta estreita em direção a tudo o que o mundo e a vida buscaram em vão? Na vida de um homem estas quatro certezas são o todo: o momento presente, a morte, o encontro com Deus, a eternidade. A morte é uma saída, um mundo que encerra; o encontro com Deus é como uma abertura em direção a um infinitude fulgurante e imutável; a eternidade é uma plenitude de ser na pura luz; e o momento presente é, em nossa duração, um lugar quase inacessível no qual somos já eternos – uma gota de eternidade no vaivém das formas e as melodias -. A oração dá ao instante terrestre todo seu peso de eternidade e seu valor divino; é a santa barca que conduz, através da vida e da morte, em direção a outra margem, em direção ao silêncio de luz – mas não é ela, no fundo, que atravessa o tempo repetindo-se, é o tempo o qual se detém, por assim dizê-lo, ante sua unicidadecelestial. (Schuon PP)

Frithjof Schuon