ZOROASTRO — TRÍADE DIVINA
Paul du Breuil: ZOROASTRO
Esta promoção de Ahura Masda opera uma transformação radical, levando a natureza divina a uma dimensão que transcende todo o conceito. O deus único de Zoroastro toma-se o menos objetivado e o menos formal de todos os deuses, situando Ahura Masda isento de todas as trevas e de toda implicação direta no conflito cósmico.
Ahura Masda (Ormasd em pálavi) domina o duelo dos dois Espíritos: Spenta Mainyu (Espírito Santo) e Ahra Mainyu (Espírito Mau; Ahriman — Y. 45.2), seu irmão gêmeo (Yema), combate do qual Ahura Masda não participa diretamente no espaço-tempo desdobrado por ele como parapeito e armadilha contra o Espírito Mau, Ahriman, nome pelo qual é mais conhecido. A criação ideal, portanto, permanece pura de todo o mal de toda a eternidade, pois é por livre-arbítrio que um dos dois Espíritos primitivos, o antigo Lúcifer, mergulhou numa via Tenebrosa (Y. 30.3). Ahura Masda/Ormasd só aparece como criatura espiritual pela virtual existência da matéria erigida em suporte do Reino divino, Khshatra. Ele não podia criar um ser livre limitando uma autonomia cujo profundo sentido repousa numa escolha da qual vai depender o destino do mundo. Deus não podia manter Ahriman no Reino que, por definição, não pode conter a mínima parcela tenebrosa. Conservá-lo seria correr o risco de eternizar a ameaça ahrimaniana. Aprisioná-lo no espaço-tempo limitaria a atividade deletéria. Eis por que a criação se desenvolve em dois tempos: criação espiritual (Menôk) e criação material (gete) tomada necessária pela má escolha e a obstinação do Mau Espírito, também chamado Akoman, espírito negativo, o espaço-tempo tomando-se um gigantesco campo de batalha no qual os elementos puros devem, sob a inspiração do Espírito Santo, vencer e reconduzir os elementos decaídos à Luz primordial, transfigurados por uma tomada definitiva de consciência sobre a natureza do bem e do mal. O mundo físico não é, pois, senão uma cópia imperfeita da criação espiritual em que os elementos bons e maus estão misturados ao extremo: “Ormazd criou antes o universo espiritual, depois fez o universo material e misturou o espiritual ao material”.
Tendo perdido sua glória celeste (Xvarnah), Ahriman “esquece” Ahura Masda/Ormazd e enfrenta apenas as forças de Spenta Mainyu, o Espírito Santo, que, tendo permanecido integralmente puro, vê-se obrigado a perseguir uma criação misturada pela hipotética ahrimaniana. Mas enquanto Zoroastro via o universo como criação mista do bem e do mal, o dualismo zervanista, nascido na Babilônia, acentua a oposição do mundo divino e do mundo material, agora criado unicamente pelo mau demiurgo, de onde a identificação da matéria com o mal e da carne com o pecado, dicotomia que vamos encontrar na gnose marcada de zervanismo e no judeu-cristianismo marcado de dualismo esseniano.