Vallin (EI:3-6) – da perspectiva religiosa à perspectiva metafísica

Sumário

-*Capítulo I – A perspectiva metafísica e a superação do panteísmo
-**I – Da perspectiva religiosa à perspectiva metafísica
-***A perspectiva religiosa se distingue da perspectiva metafísica sobre o duplo plano da experiência espiritual e das pressuposições doutrinais:
-****Enquanto a perspectiva metafísica repousa sobre uma experiência espiritual tendo com eixo o Conhecimento (gnosis) pelo qual a subjetividade humana se identifica com o Absoluto “transpessoal” ou “suprapessoal” que constitui seu “Si” ou sua “Essência” íntima, a perspectiva religiosa desemboca sobre uma experiência espiritual fundada sobre o Amor (eros), pelo qual a subjetividade humana despoja-se de seu orgulho mas não de seu ego, se une à Pessoa divina da qual resta para sempre separada por um abismo intransponível.
-*****Por outro lado a perspectiva metafísica implica em uma concepção integral da Transcendência do Absoluto que se demonstra correlativa de sua imanência radical ao manifestado, de tal maneira que o mundo e o homem são postos como reflexos do Princípio e não como substâncias, nem mesmo como efeitos ou modos, as perspectiva religiosa se caracteriza por uma concepção fragmentária ou abstrata da Transcendência: o Absoluto não está aí concebido como o Si ou a Essência das realidades finitas, mas somente como sua Causa produtora ou criadora. A limitação do Absoluto que só é concebido como Causa do Múltiplo aparece então correlativa da limitação das “criaturas” cuja condição constitui a essência. O mundo e o homem aparecem seja como modos (no emanatismo teísta de Ramanuja) seja como criaturas, mas sempre como efeitos, e não como reflexos. A essência do homem se identifica com a condição humana. Esta perspectiva repousa sobre a irredutível exterioridade recíproca do “criado” e do “incriado”.
-****Na perspectiva religiosa, o movimento de “transcendência interiorizante”, que nos parece se expandir ao máximo na perspectiva metafísica, se encontra limitado por esta exterioridade recíproca que encerra a subjetividade humana assim como a “subjetividade”divina em uma determinação ou uma negação personalizante (a pessoa finita se encontrando ao mesmo tempo unida à e separa da Pessoa infinita).

Original


  1. Cf. J. Wahl, Etudes kierkegaardiennes, p. 270 : La solitude de l’Existence : la catégorie de l’Unique. ↩

  2. Terme que nous empruntons à J. Wahl, in Existence humaine et transcendance. ↩

  3. On trouvera dans notre ouvrage La perspective métaphysique, P.U.F., 1959, une bibliographie permettant une initiation à la pensée vèdantique, et notamment à la doctrine non-dualiste de Shankara↩

  4. Et notamment de Plotin à la lumière du Non-dualisme vèdantique. ↩

  5. Il convient de noter ici que la perspective métaphysique peut s’exprimer (cf. Maître Eckhart) dans des traditions spirituelles de type religieux au sens strict (monothéisme judéo-chrétien et musulman) de même qu’inversement la perspective religieuse peut s’exprimer dans des traditions spirituelles de type « mythologico-métaphysique ». Cf. le Védantin « dualiste » Ramanuja. ↩

  6. Cf. notre article : Essence et formes de la théologie négative dans la Revue de métaph. et de morale (avril 1958), où nous esquissons deux aspects différents de cette expérience (saint Jean de la Croix et Grégoire de Nysse). ↩

  7. L’expérience spirituelle de la Transcendance. ↩

  8. Et non « impersonnel ». ↩

  9. L’expérience spirituelle de style métaphysique s’insère dans l’Inde traditionnelle, dans ce que les Védantins appellent la «Voie de la Connaissance » (Jnana marga) qui se distingue de la voie d’Amour (bhakti marga) où l’expérience spirituelle est de style religieux. ↩

  10. Cette extériorité est effectivement réciproque car s’il est évident que « Dieu » se situe au delà non seulement de l’existence, mais de l’essence même de la « créature » il paraît non moins clair que la créature en tant que telle est nécessairement, sous quelque rapport, en dehors d’un Absolu qui par essence la « crée » et la conserve dans son être de créature. ↩

  11. Cf. J. Daniélou, Platonisme et théologie mystique (Aubier). ↩

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