Via dos Numeros

ANNE MACHET — A VIA DOS NÚMEROS

A criança sabe contar bem antes de saber ler e de poder escrever. Para lhe facilitar o acesso a textos importantes, os gregos, por volta do ano mil antes de nossa era, utilizam um alfabeto cujas letras são ao mesmo temo: Signos — Sons — Números. Estes números, postos a serviço da Bíblia grega, ajudam a escutar as palavras, a melhor entender seu sentido.

Um caminho esquecido — enterrado como as antigas vias romanas que atravessavam a Europa no tempo dos Césares. A via dos Números inscritos na Bíblia grega.

É preciso de posse do texto grego da Bíblia, se lembrar do nome e da forma das letras gregas:

ME mente o valor atribuído a estas letras: valor às palavras escritas em alfabeto grego, uma guematria sobre este alfabeto. A Bíblia traduzida em grego, a Septuaginta, respeita na atribuição de sentidos a importância deste recurso. Assim como os evangelhos e os outros escritos do NT se servem deste mesmo recurso para transmitir sentidos. Os N (Números) instalados em casa na morada-Bíblia possuem a força de ideias simples. Sua grande qualidade é de deixar falar o texto, sem adições, e de nos ensinar a deixar vibrar as palavras: descobrir o ritmo, bem escutar, para melhor entender. A arte de escrever em números pôde ser um instrumento de investigação filosófica, científica, mística também, ao mesmo tempo experimentação, recepção de uum patrimônio e questionamento… A arte dos Números é alimentada de toda a simbologia do Timeu e do Filebo de Platão, revista e corrigida pela escola de Alexandria, desde o terceiro século antes de nossa era. A aritmética dos dados é muito simples: as quatro operações, a adição para encontrar um total de vários elementos, a subtração para estabelecer um balanço, saber onde estão as contas por exemplo; a multiplicação permitindo evitar repetições fastidiosas de dois elementos avaliando um em relação ao outro; a divisão garantindo a partilha em partes iguais de um conjunto. Para os gregos os Números têm um valor matemático, filosófico, teológico; amam a sabedoria, exprimem o divino. Por uma série de razões Fílon de Alexandria, exegeta e filósofo do primeiro século dC, trabalha sobre o texto grego da Bíblia, e não sobre o texto hebreu. Os públicos potenciais de Alexandria, nos anos 30 de nossa era, têm uma formação helênica. O estudo da composição das palavras é uma chave de compreensão. Cada nome atribuído a uma coisa a define com a ajuda do valor das letras que compõem este nome, e signos que o escrevem. Do mesmo modo uma única palavra ensina o abstrato pelo concreto, as relações analógicas, o aparente e o sob-as-coisas, o visível e o invisível. Na significação e na composição de um grupo de palavras, há um parentesco intencional — sinal para atrair nossa atenção. Sem jamais esgotar o sentido. Assim em sua ordem, no projeto bem preciso estabelecido, os N abrem uma análise cômoda, sempre idêntica qualquer que seja o leitor, não importa em que época. Sua excelência se limita à tarefa determinada: a abertura da linguagem humana a outras artes regidas pelo N. Isto feito, os N, fortes da proximidade radical de que testemunham, se calam. Eles estão em memória. A sua maneira eles celebram sempre o Nome. Em duas palavras, a prática N levando tudo às Unidades (de 1 a 9) pela numeração reduzida (621 e 126 tendo um valor idêntico 1 + 2 + 6 = 9) permite escapar à vertigem dos grandes números. As harmonias que criam os N se dispõem planas, ou em volume. Elas correspondem a traços, a esboços. Uma aritmética geometrizada e posta em música.

Números e Geometria