Waley (Way:43-46) – Quietismo

Havia outra seita que, embora seu modo de vida fosse exatamente o oposto daquele recomendado pelos hedonistas, foi alvo de condenação igualmente severa. Han Fei Tzu fala de pessoas que “andam à parte da multidão, orgulhando-se de serem diferentes dos outros homens. Eles pregam a doutrina do quietismo, mas sua exposição é feita em termos desconcertantes e misteriosos. Digo a Vossa Majestade que esse Quietismo não tem valor prático para ninguém e que a linguagem em que ele é apresentado não se baseia em nenhum princípio real… Afirmo que o dever do homem na vida é servir ao seu príncipe e nutrir seus pais, e nenhuma dessas coisas pode ser feita por meio da quietude. Além disso, afirmo que é dever do homem, em tudo o que ele ensina, promover a lealdade, a boa-fé e a Constituição Legal. Isso não pode ser feito em termos vagos e misteriosos. A doutrina dos Quietistas é falsa e provavelmente desviará as pessoas do caminho certo”.

Como surgiu essa doutrina? Vimos a gradual interiorização do pensamento chinês, sua preocupação com o eu e com o aperfeiçoamento do eu. Vimos como, a partir da preparação ritual do sacrificador para receber o espírito descendente, surgiu a ideia de uma limpeza do coração que deveria torná-lo um lar adequado para a alma.

Essa purificação consistia, acima de tudo, em uma “quietude” das atividades externas, dos apetites e das emoções, mas também em um “retorno”, pois a alma era vista como se tivesse sido assoreada por sucessivos depósitos de trabalho e perturbação diários, e a tarefa do “autoperfeiçoador” era abrir caminho através dessas camadas até chegar ao “homem como ele deveria ser”. Por meio dessa “quietude”, dessa completa cessação das impressões externas e da retirada dos sentidos para um ponto de foco totalmente interior, surgiu a espécie de auto-hipnose que na China é chamada de Tso-wang, “sentar com a mente em branco”; na Índia, Yoga, dhyana e outros nomes; no Japão, Zen. Foi inventada uma técnica definida para produzir esse estado de transe. A principal característica dessa técnica era, como na Índia, a manipulação da respiração — a respiração deve ser suave e leve como a de um bebê ou, como disseram os quietistas mais tarde, de uma criança no útero. Havia também exercícios estranhos dos membros, alongamentos e posturas muito parecidos com os asanas ligados à ioga indiana; mas alguns quietistas consideravam esses métodos muito físicos e concretos para a obtenção de um objetivo espiritual.

O processo do Quietismo, então, consistia em uma viagem de volta através das sucessivas camadas de consciência até o ponto em que se chegava à Consciência Pura, onde não se via mais “coisas percebidas”, mas “aquilo pelo qual percebemos”. Pois nunca ter conhecido “aquilo por meio do qual conhecemos” é jogar fora um tesouro que é nosso. Logo, no “caminho de volta”, chega-se ao ponto em que a linguagem, criada para atender às demandas da consciência superior comum, não se aplica mais. O adepto que chegou a esse ponto aprendeu, como os quietistas expressaram em sua própria linguagem secreta, “a entrar na gaiola sem fazer os pássaros cantarem”.

Aqui surge uma pergunta que, de fato, os quietistas têm sido chamados a responder em diversas partes do mundo e em muitos períodos amplamente separados da história. Se a consciência pode de fato ser modificada pela ioga, pelo auto-hipnotismo, pelo Zen, pela quietude ou por qualquer outro nome que se queira dar a ela, que evidência há de que a nova consciência tenha alguma vantagem sobre a antiga? Os quietistas, sejam chineses, indianos, alemães ou espanhóis, sempre deram a mesma resposta: com essas práticas, três coisas são alcançadas: verdade, felicidade e poder.

Do ponto de vista teórico, é claro que não há razão para acreditar que as afirmações do Tao sejam mais verdadeiras do que as do conhecimento comum; não há mais razão, de fato, do que acreditar que a música que ouvimos quando nosso rádio está ajustado para 360 seja mais “verdadeira” do que a música que ouvimos quando está ajustado para 1600. Mas, na prática real, as visões do quietista não se apresentam a ele apenas como alternativas mais ou menos agradáveis à existência cotidiana. Elas são acompanhadas por um senso de finalidade, por um sentimento de que ‘todos os problemas que todas as escolas de filósofos sob o céu não conseguem resolver desta ou daquela maneira foram resolvidos desta ou daquela maneira’. Além disso, o estado que o quietista alcança não é meramente prazeroso em vez de doloroso. É “alegria absoluta”, transcendendo totalmente qualquer forma de prazer terreno. E, por fim, dá, como dizem os indianos, siddhi, como dizem os chineses, te, um poder sobre o mundo exterior inimaginável para aqueles que se lançam contra a matéria enquanto ainda estão em suas garras. Esse aspecto do Quietismo também não está confinado, como às vezes se supõe, a seus ramos orientais. João da Cruz, em seus Aforismos, diz: ‘Sin trabajo sujetarás las gentes y te servirán las cosas, si te olvidares de ellas y de ti mismo.’ É essa última alegação do Quietismo — a crença de que o praticante se torna possuidor não apenas de um poder sobre as coisas vivas (que deveríamos chamar de hipnotismo), mas também de um poder para mover e transformar a matéria — que o mundo tem estado menos disposto a aceitar. “Experimente (yung chib) e descubra por si mesmo”, tem sido a resposta usual dos quietistas ao desafio “mostre-nos e nós acreditaremos”.

Arthur Waley (1889-1966)