Wei Wu Wei (TM:70) – Tempo-Pai

Tradução

O que somos, com base na consciência e na sensibilidade, é intemporal, e o que aparentamos ser — nossa aparência objetiva com a qual, infelizmente, estamos condicionados a nos identificar — é temporal. Isso equivale a afirmar que o que subjetivamente ‘nós’ representamos é ‘atemporal’, e que o que pensamos que somos é ‘tempo’.

‘É tempo’? Sim, pois o que pensamos que somos é algo em ação, está fazendo, é tudo o que fazemos, física ou psiquicamente como aparato psicossomático. Isso é carma, ação aparentemente volitiva e a reação aparentemente volitiva correspondente a isso. Cada uma dessas ações aparentes é um “evento”, e nosso mundo fenomenal é uma estrutura composta de “eventos” estendidos no tempo — pois cada um deve ter uma duração aparente a fim de se estender no espaço aparente e assim se manifestar perceptualmente.

Este movimento, no entanto, não nos torna entidades agindo no ‘tempo’, ou sujeitos ao ‘tempo’: ele nos deixa como tudo esse ‘tempo’ é; não passamos por algo estranho ao que somos, chamado de ‘tempo’, nem algo chamado ‘tempo’ passa por nós. Não existe tal coisa ou objeto objetivo como ‘tempo’ ou ‘duração’: o conceito representa a duração aparente que torna possível a percepção dos movimentos ou ações aparentes como resultado dos quais nos objetivamos como atores ou executores, e sobre os quais depende de nossa suposição de que existimos como entidades autônomas.

‘Tempo’ não tem outra existência, não tem existência própria, não está de forma alguma separado da percepção senciente. Portanto, tudo o que “Tempo” pode ser é um termo para o aspecto serial do que pensamos que somos ou parecemos ser como fenômenos. E tudo o que de fato somos é intemporalidade.

Original

What we are, on the basis of consciousness and sentience, is intemporal, and what we appear to be — our objective appearance with which, alas, we are conditioned to become identified — is temporal. That is equivalent to stating that what subjectively ‘we’ represent is ‘timeless’, and that what we think we are is ‘time’.

‘Is time’? Yes, for what we think we are is something in action, is doing, is whatever we do, physically or psychically as psycho-somatic apparatus. That is karma, apparently volitional acting and the corresponding apparently volitional reaction to that. Each such apparent action is an ‘event’, and our phenomenal world is a composite structure of ‘events’ extended in time — for each must have apparent duration in order to extend in apparent space and so manifest perceptually.

This movement, however, does not make us entities acting in ‘time’, or subject to ‘time’: it leaves us as all that ‘time’ is; we neither pass through some thing, foreign to what we are, called ‘time’, nor does some thing called ‘time’ pass through us. There is no such objective thing or object as ‘time’ or ‘duration’: the concept represents the apparent duration which renders possible the perceiving of the apparent movements or actions as a result of which we objectify ourselves as actors or doers, and on which depends our supposition that we exist as autonomous entities.

‘Time’ has no other existence, has no existence of its own, is not at all apart from sentient perceiving. Therefore all that ‘Time’ can be is a term for the serial aspect of what we think we are or appear to be as phenomena. And all that in fact we are is intemporality.

[extract from Wei Wu Wei, The Tenth Man, p. 147]