Frances Yates — O Iluminismo Rosa-Cruz
Excertos da tradução em português por Syomara Cajado
John Dee
Os contatos de Anhalt com pessoas da Boêmia eram de um gênero que poderiam levá-lo a ingressar na esfera de uma extraordinária corrente de influências oriundas da Inglaterra, e que tinham surgido com a visita à Boêmia de John Dee e de seu companheiro Edward Kelley. Como é sabido, Dee e Kelley encontravam-se em Praga em 1583, quando o primeiro tentou despertar o interesse do Imperador Rodolfo II para seu misticismo imperialista de grande alcance e seu vasto círculo de estudos. A natureza do trabalho de Dee, atualmente, é melhor conhecida através do recente livro da autoria de Peter French. Dee, cuja influência na Inglaterra fora tão intensamente importante, e que tinha sido o professor de Philip Sidney e seus amigos, tivera a oportunidade de formar um grupo de adeptos na Boêmia, embora, por enquanto, tenhamos poucos meios para estudar o assunto. O centro principal das influências de Dee, na Boêmia, teria sido Trebona, na qual ele e Kelley haviam estabelecido sua sede após a primeira visita a Praga1. Dee residiu em Trebona como hóspede de Villem Rozmberk, até 1589, quando regressou à Inglaterra. Villem Rozmberk era o irmão mais velho de Peter, que foi amigo de Anhalt e que herdara as propriedades em Trebona após a morte de seu irmão2. Dada a tendência da mente de Anhalt e a natureza de seus interesses, é evidente que teria sido atingido pelas influências de Dee. De mais a mais, é provável que as ideias e perspectivas emanadas originalmente de Dee — o filósofo inglês e elisabetano — tenham sido empregadas por Anhalt ao fortalecer a imagem do Eleitor Palatino na Boêmia, como uma pessoa que dispunha de recursos maravilhosos, devido à influência inglesa em sua retaguarda.
A ascendência de Dee estivera difundindo-se, muito anteriormente, da Boêmia para a Alemanha. Segundo os comentários sobre Dee, feitos por Elias Ashmole em seu Theatrum Chemicum Britannicum (1652), a viagem de Dee pela Alemanha em 1589, ao regressar da Boêmia para a Inglaterra, foi um tanto sensacional. Ele passou perto daqueles territórios que, vinte e cinco anos mais tarde, deveriam ser o cenário da explosão do movimento rosa-cruz. O Landgrave de Hesse apresentou seus cumprimentos a Dee, que por sua vez “presenteou-o com doze cavalos húngaros que comprara em Praga para sua viagem”3. Por ocasião dessa etapa em sua viagem para a Inglaterra, Dee também entrou em contato com seu discípulo Edward Dyer (um dos amigos mais íntimos de Philip Sidney) que estava seguindo para a Dinamarca como embaixador, e que “no ano anterior estivera em Trebona e levara cartas do Doutor (Dee) para a Rainha Elisabete” (Ibid., p. 483). Dee deve ter causado uma forte impressão nessas duas pessoas acima mencionadas, como sendo um homem muitíssimo erudito e alguém representando o centro de grandes negócios.
-*KHUNRATH
-*ROSA-CRUZ
1
Peter French, John Dee, pp. 121 e ss. ↩
Um material recente e valioso sobre a família Rozmberk e seus contatos com Dee, encontrar-se-á disponível no próximo livro de Robert Evans sobre a corte de Rodolfo II. ↩
Elias Ashmole, Theatrum Chemicum britannicum, Londres, 1652 (fac-símile reeditado, ed. Allen Debus, Johnson Reprint Corp., 1967), pp. 482-3. ↩