Heinrich Zimmer — FILOSOFIAS DA ÍNDIA
Um conceito típico do sistema tântrico é o da shakti: a mulher como “energia” (shakti) projetada do homem (compare com a metáfora bíblica de Eva como costela de Adão). Homem e mulher, deus e deusa, são as manifestações polares (passiva e ativa, respectivamente) de um princípio único transcendente e, como tal, um em essência, ainda que duplo na aparência. O homem é identificado com a eternidade, a mulher com o tempo, e o abraço dos dois com o mistério da criação.
O culto da shakti, a deusa, desempenha um papel de enorme importância no hinduísmo moderno, em contraste com a ênfase patriarcal da tradição védica, estritamente ariana; e sugere que o Tantra pode ter tido suas raízes em solo dravídico, isto é, não-ariano. Digno de nota é o fato de que Shiva, o deus universal e consorte da deusa (que para ela guarda a mesma relação que a eternidade com respeito ao tempo) é também o Senhor Supremo do yoga, que é uma disciplina não-védica. A casta, além disso, não é um pré-requisito para a iniciação tântrica (cf. supra, loc. cit). Zimmer sugere que a tradição tântrica representa uma síntese criativa das filosofias arianas e nativas da índia. O tantrismo exerceu uma prodigiosa influência sobre o budismo Mahâyâna; e ainda, sua profunda penetração psicológica e arrojadas técnicas espirituais conferem um interesse peculiar para o psicanalista moderno.