A jornada sufi em direção à realização da Unidade ontológica não é, entretanto, uma série de iluminações e epifanias que resolvem todas as dificuldades por si só. De fato, o sufi é o teatro de um combate espiritual incessante que Qashani, fazendo alusão a um famoso hadith, chama de “grande combate (por Deus)” (al-jihâd al-akbar) em oposição ao pequeno combate por Deus que é o combate puramente militar.
A interação dos diferentes elementos e tendências que entram em ação durante o esforço do sufi para se despir de tudo o que sustenta a ilusão de sua egoidade constitui o que pode ser chamado de “psicologia espiritual”. Esse termo obviamente não tem nada a ver com a psicologia moderna. É simplesmente uma descrição dos elementos que entram em ação na realização espiritual, conforme percebidos, identificados e teorizados ao longo dos séculos por gerações de mestres.
Os vários elementos da psicologia espiritual descritos por Qashani refletem, com rigoroso paralelismo, a procissão de “descidas” na cosmologia, por um lado, e a ordem microcósmica, por outro. Entretanto, elas são fundamentalmente caracterizadas por relações antagônicas. O mundo interior do sufi está em constante estado de equilíbrio, seja no nível das “estações” (maqamat) ou, ainda mais, no nível dos “estados” (ahwâl); pois o sufi é constantemente atraído, “magnetizado” por um chamado cada vez mais exigente à unificação.
Qashani dedicou a grande maioria de seus comentários a essa aplicação microcósmica, conhecida como tatbiq. A estrutura da ação pode ser resumida, em termos simplificados, como uma batalha entre as tendências espirituais e “luminosas”, por um lado, e as tendências psíquicas e “escuras”, por outro, a fim de adquirir a influência dominante sobre o coração, que é o órgão de percepção espiritual por excelência e o local de revelação (mukâshafa).