sete cores

Pode-se perguntar se esses “sete raios” do Sol não têm alguma relação com o que, de hábito, designa-se como as “sete cores do arco-íris”, pois estas representam literalmente as radiações de que se compõe a luz solar. Há de fato, uma relação, mas, ao mesmo tempo, as chamadas “sete cores” são um exemplo típico da forma pela qual um dado tradicional autêntico pode ser às vezes deformado pela incompreensão comum. Tal deformação, num caso como esse, é explicável aliás de maneira muito fácil: sabe-se que deve existir um setenário, mas, como um dos seus termos não pôde ser encontrado, foi substituído por um outro que, na realidade, não tem qualquer razão de ser. O setenário parece ter sido assim reconstituído, porém de tal forma que o seu simbolismo ficou inteiramente falseado. Se agora nos perguntarem por que um dos termos do verdadeiro setenário escapa assim ao vulgar-, a resposta também é fácil: esse termo é o que corresponde ao “sétimo raio”, isto é, ao raio “central” ou “axial”, que passa “através do Sol” e que, por não ser um raio como os outros, torna-se impossível de ser representado como eles. Por esse motivo, e em razão ainda de todo o conjunto de suas conexões simbólicas e verdadeiramente iniciáticas, existe nessa questão um particular caráter de mistério. E, desse ponto de vista, seria possível dizer que a substituição em foco tem por efeito dissimular o mistério aos olhos dos profanos. Pouco importa, em tais casos, que sua origem tenha sido intencional ou devida a um equívoco involuntário, o que seria sem dúvida muito difícil de determinar com certeza. De fato, o arco-íris não tem sete cores, mas apenas seis cores.

Se ficar provado que a noção errônea das “sete cores” remonta à Antiguidade, será possível perguntar se não foi difundida voluntariamente pelos iniciados nesses Mistérios, que teriam encontrado dessa maneira o meio de assegurar a conservação de um dado tradicional sem no entanto dar a conhecer o seu verdadeiro sentido. No caso contrário, seria preciso supor que o termo substituído tenha sido de certo modo inventado pelo próprio vulgo que teria simplesmente conhecimento da existência de um setenário, mas ignorava sua constituição real. Pode ser, no entanto, que a verdade se encontre numa combinação dessas duas hipóteses, pois é muito possível que a opinião atualmente usual sobre as “sete cores” represente o resultado de várias deformações sucessivas do lado inicial. [Guénon]

Números e Geometria