Yates – Crollius

Oswald Croll, ou Crollius, era um médico paracelsista que, ao contrário de Libavius, adotou não apenas os medicamentos químicos paracelsistas, mas também todo o “background” do pensamento de Paracelso, rejeitando Aristóteles e Galeno, e aderindo entusiasticamente ao misticismo, à magia e teorias harmônicas de ensinamento paracelsista como um todo. A Basílica Chymica de Croll, publicado em Frankfurt, 1609, constantemente cita com reverência Hermes Trismegistus, e textos herméticos, estando essa obra imbuída de respeito pelos neo-platônicos da Renascença, tais como Pico delia Mirandola. Seu tema são as harmonias mágicas do macrocosmo e microcosmo, e todo o seu ambiente é semelhante ao que deveria ter sido altamente compatível com o dos autores dos manifestos rosa-cruzes. Outro trabalho de Croll, publicado em Praga, 1608, expõe a correlação paracelsista dos mundos, grande e pequeno, através da doutrina das “assinaturas” astrais1.

Por conseguinte, temos em Libavius e Croll representantes do “químico” ou alquimista, que é por tradição aristotélico e galénico em sua teoria, contrastando com o radical, místico, alquimista paracelsista. Libavius classifica os manifestos rosa-cruzes como pertencendo, com Croll, a uma escola heterodoxa de noções alquímicas.

Ora, conforme mencionei antes, Oswald Croll esteve em contato com Christian de Anhalt, como seu médico. Sua Basílica é dedicada a ele, com o privilégio do Imperador Rodolfo II. Sua De signatura rerum é dedicada a Peter Wok de Rozmberk, o nobre da Boêmia que era aliado íntimo de Anhalt e confederado, e cujo irmão fora o protetor de Dee na Boêmia. Associando os ensinamentos dos manifestos rosa-cruzes àqueles de Croll, Libavius estaria portanto insinuando que os manifestos pertenciam a um ambiente compatível com Anhalt, um ambiente no qual as influências de John Dee mesclavam-se com as de Croll.

E evidentemente, Anhalt era o espírito propulsor por trás da tradição “ativista” do Protestantismo Alemão, a tradição que estivera à procura de líderes durante toda a primeira metade do século, e que no momento (na ocasião os manifestos rosa-cruzes estavam realmente impressos), decidira-se por Frederico V, o Eleitor Palatino, como o líder destinado a chefiar o movimento e levá-lo à vitória.


  1. Oswald Croll, De signaturis internis rerum, Praga, 1608. 

Alquimia, Frances Yates