“Mas quando o sol se pôs… a lua se pôs… o fogo se apagou e a fala se calou, que luz tem uma pessoa aqui?”Brhadaranyaka Upanishad IV.3.6
Muitas vezes é feita uma distinção nítida entre o Caminho da Gnose (jnana-marga), por um lado, e o Caminho da Devoção (bhakti-marga) ou o Caminho do Amor (prema-marga), por outro; essa distinção corresponde, ao mesmo tempo, à distinção entre a Vida Contemplativa (samkhya yoga e samnyasa do Bhagavad Gita) e a Vida Ativa (karma yoga do Bhagavad Gita). A distinção, que é feita como se as operações do intelecto e da vontade pudessem ser tão claramente isoladas no sujeito quanto podem ser isoladas na lógica, é, em todo caso, uma distinção de procedimento e, sob certas condições, também de fins; tal distinção certamente não é sem significado, na medida em que corresponde àquela entre misticismo e gnosticismo, isto é, entre fé devocional e exercícios religiosos, por um lado, e ensino iniciático e prática metafísica, por outro; ou, novamente, entre uma “deificação” no sentido de assimilação com um perfeito consentimento da vontade, e uma “deificação” na qual a distinção entre o conhecedor e o conhecido é transcendida.
Por outro lado, quaisquer que sejam os fatos relativos às obras devocionais geralmente atribuídas a Shri Shankaracarya, não há dúvida de que os indianos, cujo pensamento e modo de ser são tradicionais, nunca encontraram qualquer dificuldade em considerar esse grande expoente intelectual da metafísica não dualista (advaita) como tendo sido, ao mesmo tempo, um bhakta e um jnani. Com relação a isso, considere também a fraseologia marcadamente devocional de alguns dos hinos incluídos no Siddhantamuktavali de V. P. Bhatta (J. R. Ballantyne, tr., Calcutá, 1851), onde, por exemplo, encontramos dirigida ao espírito (atman), “Agora que Te obtive, nunca Te deixarei partir” (idanim tvam aham prapto na tyajami kadacana); somente para o estudioso erudito essa expressão de sentimento de um vedantista pode parecer incongruente. O Bhagavad Gita, V.2-4, afirma claramente que, para aquele que é perfeiçoado (asthitah samyak) em qualquer um dos Caminhos, o resultado é a mesma fruição (ekam… phalam) e o sumum bonum (nihsreyasa), e que esse sumum bonum não pode ser considerado outro senão a “despiração em Brahman” (brahma-nirvanam) do Bhagavad Gita V.24-25, já que aqui nirvanam corresponde a anatyam no Taittiriya Upanishad II.7. O Bhagavad Gita VIII.22 é igualmente explícito: “Essa Pessoa superna deve ser obtida por meio da dedicação exclusiva” (purushah sa parah… bhaktya labhyas tu ananyaya), ou seja, por meio do amor indiviso ou “puro”, conforme definido por São Bernardo.
“Aperfeiçoado” (samyak) na passagem citada implica uma importante ressalva, pois não se deve supor que a recompensa (phala) daquele que seguiu um ou outro caminho até o meio será a mesma daquele que atingiu o fim. Aquele que chega apenas à metade do caminho, seja por um movimento da vontade, como no misticismo, ou pela contemplação intelectual, como na teologia, guiado apenas pela “fé”, pode atingir o nível mais alto do ser humano contingente e a visão da Face de Deus, mas ainda não atingiu a Identidade Suprema (tad ekam) e ainda está na multiplicidade. [pós 1936]