Para os entalhadores de pedra e para os construtores que empregavam os produtos desse trabalho, a pedra bruta representava a “matéria prima” indiferenciada, ou o “caos” com todas as suas correspondências, tanto microcósmicas quanto macrocósmicas, enquanto que a pedra completamente talhada em todas as suas faces representava, ao contrário, o acabamento ou a perfeição da obra. Aí está a explicação da diferença que existe entre o significado simbólico da pedra bruta no caso dos monumentos megalíticos e dos altares primitivos, e o significado da pedra bruta na maçonaria. Acrescentaremos, sem poder aqui insistir mais sobre o assunto, que essa diferença corresponde ao duplo aspecto da matéria-prima, segundo seja vista como a “Virgem universal” ou como o “caos” que é a origem de toda manifestação. Na tradição hindu, de igual modo, Prakriti é ao mesmo tempo a pura potencialidade, que está literalmente debaixo de toda existência, e também um aspecto de Shakti, ou seja, a “Mãe divina”. Deve ficar bem entendido que esses dois pontos de vista não são de modo algum excludentes entre si, o que aliás justifica a coexistência de altares de pedras brutas com edifícios de pedras talhadas. Essas considerações mostrarão ainda que, como em todas as outras coisas, para a interpretação dos símbolos é preciso sempre saber situar cada elemento em seu exato lugar, sem o que se corre o risco de cair em erros dos mais grosseiros. [René Guénon: Os Dois Caos; Símbolos da ciência sagrada SSS]
Caos [SSS]
TERMOS CHAVES: caos