Índice
- Sumário
- Tradução da Essência (adh-Dhât)
- Do nome (al-Ism)
- Da qualidade (Aç-Çîfah)
- Da unicidade (al-wâhidiyah)
- Da Obscuridade Divina (al-‘amâ)
Introdução
Os textos traduzidos aqui foram retirados do famoso livro al-insân al-kâmil (“O Homem Universal”) do sufi ‘Abd al-Karîm al-Jîlî. Eles tratam de alguns aspectos fundamentais da doutrina sufi.
‘Abd al-Karîm ibn Ibrâhîm al-Jîlî, que nasceu em 1366 (ano 767 da Hégira) em Jîl, na região de Bagdá, e cujo professor foi o shaykh Sharaf ad-dîn Ismâïl ibn Ibrâhîm al-Jabartî, é um continuador do ensinamento metafísico do “Muito Grande Mestre” (ash-shaykh al-akbar), Muhyi-d-dîn ibn Arabi. Ele mesmo nos lembra que “todas as verdades contraditórias são unificadas na Verdade” (Una, al-haqq).
Comparado ao ensinamento de Ibn Arabo, o de Jîlî é, em alguns aspectos, mais sistemático; tem uma arquitetura dialética mais aparente, o que é uma vantagem para o leitor não familiarizado com esse aspecto do sufismo.
Reproduzimos aqui os primeiros capítulos de al-insân al-kâmil, deixando de lado, entretanto, certas partes que se desviam do tema principal e exigiriam um comentário muito extenso. Esses capítulos representam apenas um quarto de toda a obra, mas contêm sua quintessência, tanto em termos de doutrina quanto de aplicações espirituais.
Sumário de Burckhardt, desta obra de Jili
Os três primeiros capítulos (do texto de Jili) sobre Essência, Qualidade e Nome estabelecem os conceitos fundamentais que tentamos delinear.
Os próximos seis capítulos descrevem o que pode ser chamado de Graus Divinos, a saber: Natureza Divina, Unidade, Unicidade, Bem-aventurança, Misericordiosa, Senhorio e Escuridão Divina. Em nossa tradução, deixamos de fora o capítulo sobre Senhorio, cujo conteúdo está, em sua maior parte, implícito nos outros. Ao falar da Escuridão divina, que é a Realidade imanifesta de Deus, Jîlî retorna, de certa forma, ao que disse no início sobre a Essência. Essa série de capítulos constitui, portanto, um ciclo completo.
Não estamos traduzindo os dois capítulos que se seguem, que tratam da transcendência divina (at-tanzîh) e da imanência (at-tashbîh), porque esses dois capítulos não constituem elos indispensáveis no conjunto lógico que nos propusemos a reproduzir.
Os quatro capítulos seguintes, por outro lado, que tratam do “desvelamento” (tajallî) das Atividades, Nomes, Qualidades e Essência, são uma contrapartida aos que tratam dos Graus Divinos, pois descrevem a realização gradual desses mesmos Graus. Deve-se ressaltar, nesse contexto, que a consideração das Atividades divinas no homem pertence naturalmente ao domínio da ação e da vontade humanas, ao passo que o conhecimento dos Nomes e das Qualidades – estes últimos, além disso, implicam essencialmente em Atividades – é da ordem da pura contemplação. A contemplação de Deus com base em Seus Nomes utiliza suportes ideais, sendo cada Nome divino como um ponto de vista intelectual a respeito da Essência. Quanto à “revelação” das Qualidades, ela envolve uma penetração real das modalidades divinas, de modo que o sujeito individual deixa de existir como foco de visão. O último desses capítulos diz respeito ao conhecimento imediato da Essência, um conhecimento que é prerrogativa do Homem universal como o “polo” da existência.
Essa é a extensão de nossa tradução, que não é completa, pois omitimos algumas passagens de importância secundária ou de natureza excessivamente hermética; marcamos as passagens omitidas em nossa tradução com pontos de elipse; além disso, como a natureza condensada do texto original exige certas interpolações, tivemos o cuidado de indicá-las com colchetes. A língua árabe é ao mesmo tempo concisa e complexa – palavras com vários significados e sinônimos são abundantes – uma qualidade que se presta à especulação metafísica, mas que às vezes se recusa a ser traduzida literalmente.