A prerrogativa do estado humano constitui a objetividade cujo conteúdo essencial é o Absoluto. Não há conhecimento sem objetividade da inteligência, não há liberdade sem objetividade da vontade e não há nobreza sem objetividade da alma. Em cada um dos três casos, a objetividade é ao mesmo tempo horizontal e vertical. O sujeito, seja intelectivo, volitivo ou afetivo, visa necessariamente tanto ao contingente quanto ao Absoluto: ao contingente, em virtude de o próprio sujeito ser contingente e na medida em que ele é;e ao Absoluto, porque o sujeito se assemelha ao Absoluto por sua capacidade de objetividade.
O esoterismo, por suas interpretações, revelações e operações interiorizantes, tende a produzir a objetividade pura ou direta; esta é a sua razão de ser. A objetividade explica a imanência e a transcendência, sendo simultaneamente extinção e reintegração. Nada mais é senão a Verdade, na qual sujeito e objeto coincidem e o essencial prevalece sobre o acidental — ou na qual o princípio antepõe-se à sua manifestação —, extinguindo-o ou reintegrando-o, conforme os vários aspectos ontológicos da própria relatividade.
Quem diz objetividade diz totalidade, e isso em todos os planos: as doutrinas esotéricas chegam à totalidade na medida em que atingem a objetividade; é precisamente a totalidade que diferencia a doutrina de um Shankara da de um Ramanuja. Por um lado, a verdade parcial ou indireta pode salvar e, sob esse aspecto, pode bastar-nos; por outro lado, se Deus julgou conveniente conceder-nos uma compreensão que ultrapassa o mínimo necessário, nada podemos fazer e não ficaria bem nos queixarmos. Certamente, o homem tem liberdade para não admitir tais evidências — e lhe acontece de assim proceder por ignorância ou comodidade —, mas o mínimo que se pode dizer é que nada o obriga a isso.
Além disso, a diferença entre as duas perspectivas a que nos referimos não está apenas na maneira de considerar um determinado objeto, mas encontra-se também nos objetos considerados; isto é, não falando apenas de modo diferente de uma mesma coisa, fala-se também de coisas diferentes, o que constitui a própria evidência.
Entretanto, se, por um lado, o mundo da gnose e o da crença são distintos, por outro, e de um ponto de vista diferente, encontram-se e até se interpenetram. Talvez nos digam que determinada opinião nossa não tem nada de especificamente esotérico ou gnóstico; concordamos plenamente e somos os primeiros a reconhecê-lo. É evidente que essas duas perspectivas podem ou devem coincidir em muitos pontos, em diferentes níveis, visto a verdade subjacente ser una e também o homem ser uno.