Schuon (EPV) – A função das relíquias

A função das relíquias — tópicos

Está na natureza do homem — visto que combina o exterior com o interior — utilizar suportes sensíveis tendo em vista o progresso do seu espírito ou o equilíbrio da sua alma. Esses suportes são artísticos e, portanto, simbolistas e estéticos, ou teúrgicos. Neste último caso, sua função é veicular as forças benéficas, protetoras e santificantes; aliás, os dois gêneros podem combinar-se. Propomo-nos a falar aqui da segunda categoria ou, mais precisamente, de um caso particular, o das relíquias, cuja função com efeito concerne à liturgia, indiretamente, pelo menos. Dizemos teurgia e não magia, visto que as forças que agem neste caso têm sua razão de ser e sua fonte essencial na Graça divina e não na arte humana.1 Para tratar deste assunto, basta uma resposta a duas objeções, uma visando à autenticidade das relíquias e a outra à sua eficácia.

Lembremos, de início, que na origem do culto das relíquias existem os corpos dos santos, depois partes ou parcelas desses corpos, em seguida objetos que estiveram em contato com eles e, mais tarde, objetos que estiveram em contato com esses primeiros objetos. É evidente que esta última categoria não comporta nenhum limite, pois pode-se colocar os tecidos sobre as relíquias “de força maior” indefinidamente, tal como a Túnica Santa conservada em Treves. Em todo caso, é impossível esquecer que o culto das relíquias, longe de ser apenas um abuso relativamente tardio, como imaginava a maioria dos protestantes, remonta à época das catacumbas e representa um elemento essencial na economia devocional e carismática do Cristianismo.

  • As relíquias, suportes teúrgicos da espiritualidade
  • Recordando a história do culto das relíquias
  • Ideia teológica e ideia popular sobre as relíquias
  • Distinção de três forças nas relíquias
  • O caso muito particular dos objetos celestes descidos sobre a terra
  • O culto das relíquias se encontra em todas as religiões
  • Da objeção contra a eficacidade das relíquias e contra sua autenticidade
  • Das imagens milagrosas
  • Ilegitimidade de rejeitar certos suportes tais como as relíquias

  1. No ápice desta categoria fenomenológica, situa-se a ordem sacramental, cuja natureza todavia é tal que, de um ponto de vista mais rigoroso, constitui uma categoria à parte.  

Frithjof Schuon