A estética como norma de vida (ABEM)

Ioan Couliano (1984) vê na magia ficiniana uma técnica para o controle pessoal, capaz de colocar o mago em estado de tensão ou distensão, como acontece com os monges orientais, que meditam por horas e horas pronunciando um mantra e por meio dessa concentração encontram uma disposição de espírito relaxada e serena, ou como acontece com as técnicas corporais da ioga. De fato, faz parte da prática ficiniana uma série de conselhos referentes a uma dieta sadia, a passeios em lugares amenos de ar doce e puro, à prática da higiene pessoal, ao uso de substâncias como o vinho e o açúcar. Trata-se de purgar o espírito do homem de suas sujeiras para torná-lo mais semelhante ao espírito do mundo e, portanto, mais celeste.

Porém devemos pensar em tais ritos também como manifestações artísticas, feitas por estetas que cultivam com amor o próprio corpo, a agradabilidade do próprio ambiente e dos objetos que o circundam. Há um componente estético nessa disposição para a meditação das belas figuras e para o canto de agradáveis melodias. O mago neoplatônico é mais enamorado das harmonias terrenas que dos mundos infernais. A magia parece permitir, mais do que um tenebroso domínio do sobrenatural, um agradável equilíbrio natural.

Vimos que Ficino parece privilegiar o reflexo da ideia celeste na matéria que ela forma. Mas — e se trata de um outro aspecto do novo paradigma renascentista — esta concepção do sábio que procura tornar-se semelhante a Deus, penetrando em seus mistérios, tem como efeito colateral uma revalorização do corpo e dos prazeres da vida. Curiosa contradição: o teórico medieval pode gastar páginas e páginas sobre a beleza da natureza, mas não chegará à conclusão de que também o modo de tratar o próprio corpo e o próprio ambiente fazem parte de seu ideal de beleza. O teórico do Renascimento, ao contrário, parece voltado para a descoberta de uma ideia desmaterializada de beleza, mas de fato comporta-se como se o problema estético não dissesse respeito somente à contemplação do mundo, mas também à própria prática cotidiana, ao cuidado do próprio corpo e dos lugares em que agradavelmente, com equilíbrio mas com plenitude dos sentidos, põe-se a celebrar a própria aventura terrena.

Longe de evocar os espíritos dos defuntos para dar espetáculo, como o necromante descrito por Benvenuto Cellini, longe de voar no ar e encantar homens e animais, como as feiticeiras tradicionais, longe até de dedicar-se, como Henrique Cornélio Agrippa, à pirotécnica ou, como o abade Tritêmio, à criptografia, o mago de Ficino é um personagem inofensivo, cujos hábitos não têm nada de repreensível ou de escandaloso aos olhos de um bom cristão. É certo que ao visitá-lo — a não ser que ele considere pouco recomendável nossa companhia, fato este muito provável — ouvir-se-á a proposta de acompanhá-lo em seu passeio cotidiano. Furtivamente, para evitar encontros importunos, nos conduzirá a um jardim encantado, lugar ameno onde os raios do Sol encontram, no ar fresco, só os perfumes das flores e as ondas pneumáticas emanadas pelo canto dos pássaros. Poderá acontecer também que nosso teurgo, envolto em sua veste de lã branca exemplarmente limpa, comece a inspirar e a expirar até que, vislumbrada uma nuvem, voltará para casa, preocupado com a ideia de pegar um resfriado. Para atrair a benéfica influência de Apolo e das Graças celestes tocará a lira, depois disso se acomodará em uma mesa frugal e consumirá, além de um pouco de verdura cozida e uma ou outra folha de salada, dois corações de galo para fortalecer o seu próprio, e um cérebro de carneiro para reforçar o próprio cérebro. Único luxo, ele se permitirá uma colherada de açúcar branco e um copo de bom vinho, mesmo que este último, observado de perto, revele conter um pó insolúvel no qual será reconhecível uma ametista triturada, que lhe atrairá, sem falta, os favores de Vénus. Notaremos que sua casa é tão limpa quanto suas vestes, e que, ao contrário da maior parte de seus concidadãos, os quais não seguem seus bons hábitos, nosso teurgo lava-se sistematicamente duas vezes ao dia.

Nem causará espanto que este indivíduo, muito atento a não criar embaraços a ninguém, e além disso limpo como um gato, não incorra na ira das autoridades, sejam laicas ou religiosas. Foi tolerado na medida da tolerância, ou, antes, da indiferença, da qual ele mesmo dá prova no confronto de seus semelhantes menos evoluídos, cujo pneuma nunca foi tão transparente quanto o seu. (Ioan Couliano 1984; tr. it. pp. 24-25)

Páginas em ,